A dois dias de um julgamento que atrairá a atenção de todo o país para o Supremo Tribunal Federal (STF) e poderá ampliar o descrédito da instituição, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, fez uma apelo à serenidade. A manifestação, lida diante da câmera, foi ao ar na TV Justiça, no início da noite. Em um sinal de que percebeu o perigo que a radicalização representa, a ministra começou com uma exaltação à democracia e tentou apaziguar os ânimos:
— A democracia é fruto da luta de muitos. E, fora da democracia, não há respeito ao direito nem esperança de justiça e ética.
Cármen Lúcia não citou nomes, nem fez menção específica ao habeas corpus que estará em julgamento na quarta-feira (4), nem às ações que questionam a constitucionalidade da prisão antes da condenação em última instância. Pediu calma:
— Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições. Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade. Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social. Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade.
Como quem pisa em ovos, a ministra fez um discurso em que não toma posição sobre quem tem razão sobre o momento adequado para começar o cumprimento da pena, se depois da condenação em segunda instância ou apenas após o esgotamento de todos os recursos:
— Problemas resolvem-se com racionalidade, competência, equilíbrio e respeito aos direitos (...). Problemas resolvem-se garantindo-se a observância da Constituição, papel fundamental e conferido ao Poder Judiciário, que o vem cumprindo com rigor. Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade, que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições pela só circunstância de se terem ideias e práticas próprias. Diferenças não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro.
E encerrou:
– A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsáveis por assegurá-los.