
Karatê Kid: Lendas chega aos cinemas nesta quinta-feira (8) sendo o mais curto de todos os seis filmes da franquia iniciada em 1984, com 1h34min. A nova produção tem meia hora a menos que o título original e uma redução de cerca de 50 minutos em relação ao longa-metragem de 2010.
Tal mudança é curiosa, visto que, nesta nova incursão ao mundo das rinhas de adolescentes, é preciso apresentar um novo protagonista. É uma tentativa, talvez, de atrair uma geração que não consegue prender a atenção em algo que não seja os poucos segundos que um vídeo do TikTok leva para passar.
Dinâmica, a própria montagem do filme não dá muito tempo de respiro, com frequentes auxílios gráficos para estimular o espectador e complementar a experiência. Inclusive, os cortes das cenas de luta são rápidos, experimentando diversos ângulos para mostrar apenas um chute.
É uma atualização de linguagem interessante, buscando um novo público que pode nem conhecer a jornada de Daniel-san e do senhor Miyagi, mas sem ofender os quarentões que irão aos cinemas movidos pela nostalgia – afinal, o oitentista Karatê Kid: A Hora da Verdade foi um fenômeno da Sessão da Tarde.
E o raio caiu duas vezes no mesmo lugar, quando a versão de 2010 também virou febre, embalado pela trilha sonora do fenômeno pop Justin Bieber. Na verdade, dá para dizer que foram três vezes, já que Cobra Kai, a série do streaming, também arrebatou uma legião de fãs, tanto é que ganhou nada menos que seis temporadas, sendo finalizada em fevereiro último.
A ideia de Lendas, então, é surfar no hype. Na verdade, em todos os hypes, pegando elementos das várias fases da franquia e mesclando tudo neste projeto que, desde o começo, quis estar ligado à internet. A escolha do protagonista, Ben Wang, foi feita de maneira global, através de um chamamento para inscrições pelas redes sociais – em apenas um dia, a Sony Pictures recebeu mais de 10 mil candidatos.

"Dois galhos, uma árvore"
Mas, enfim, qual é a história de Karatê Kid: Lendas? A trama aposta no que já deu certo na franquia: um jovem – Li Fong (Wang) – se muda, contra a sua vontade, para uma cidade estranha, apaixona-se por uma menina que namora com um lutador "bad boy" e, em pouco tempo, encontra-se inscrito para participar de um torneio de artes marciais. E, neste caso, o foco é o caratê.
A diferença para esta versão de 2025 é que o protagonista não aprende a lutar em pouco tempo, como ocorreu com os personagens centrais das aventuras anteriores. Ele já tem uma bagagem de kung fu, ensinado na China pelo seu tio-avô, o senhor Han (Jackie Chan), de Karatê Kid de 2010.
Porém, para estar apto para participar do torneio, é necessário de um especialista carateca: eis que entra em cena Daniel LaRusso (Ralph Macchio), dos três primeiros filmes da franquia (1984-1989) e de Cobra Kai (2018-2025). E, para unir estas duas linhas temporais, a franquia recorre a um retcon – ou seja, uma continuidade retroativa, que modifica uma parte de uma história já estabelecida.
Desta forma, o longa-metragem, que é comandado pelo estreante na função (Jonathan Entwistle, da série jovem The End of the F***ing World) une as famílias de Han e Miyagi (Pat Morita), mostrando que, ao longo da história, o kung fu e o caratê estiveram unidos.
É com o lema "dois galhos, uma árvore", repetido à exaustão durante o filme, assim que o jovem protagonista vai encarar o seu grande desafio: derrotar o desafeto de seu interesse romântico.

Facilidades
Priorizando a rapidez, o roteiro de Rob Lieber precisa encontrar formas de avançar por arcos de maneira rápida. Assim, algumas soluções são apressadas e pouco desenvolvidas – como, por exemplo, a decisão de Han viajar da China para Nova York, cidade onde está morando Li. A história tem que avançar, não importa muito como e nem a quantidade de clichês que forem necessários.
Esta agilidade pouco dá espaço para refletir sobre os acontecimentos. O espectador apenas vai aceitando. Mas tudo se torna mais fácil com o carisma dos personagens, em especial o chinês Ben Wang. O ator de 25 anos – mas que aparenta ter bem menos, assim como foi com Macchio, que estrelou o primeiro Karatê Kid com 23 – entrega uma atuação segura, ao mesmo tempo em que dá show lutando.
Multitalentoso, Wang transita muito bem entre o inglês e o mandarim, ao mesmo tempo que consegue mesclar os estilos de artes marciais — em diversos momentos, ele replica as acrobacias consagradas de Jackie Chan, com o mesmo humor e personalidade. E uma dinâmica que também é um ponto positivo de Lendas é quando Li ensina as suas habilidades para o boxeador Victor (Joshua Jackson), o que permite com que o público entenda a dimensão de seu talento como lutador.
Porém, assim como ocorreu lá em 1984, o novo Karatê Kid não consegue dar um propósito para o seu principal antagonista, Connor Day (Aramis Knight). É só mais um vilão unidimensional, tal qual foi Jonnhy Lawrence (William Zabka).
Será que daqui há 30 anos ele vai ganhar uma série para se redimir? A franquia, pelo visto, ainda estará por aí, pois, com este novo capítulo da saga, a Sessão da Tarde acaba de ganhar um importante reforço em seu catálogo para ser repetido incontáveis vezes. E deve, pelo menos, se divertir em todas elas.