Foi a necessidade de fazer caixa para pagar salários e reduzir o monumental déficit previsto para este ano que precipitou a decisão do governo Sartori de vender mais uma fatia (generosa) do Banrisul. Embora o governador e os secretários não falem em valores, alegando que isso quem vai determinar é o mercado, a expectativa é de arrecadar pelo menos R$ 2 bilhões, dinheiro que cairia direto no caixa único.
Na forma como a venda de ações foi anunciada, o governo fez um movimento político para acabar com as especulações sobre a eventual privatização do Banrisul. Mesmo desmentida incontáveis vezes pelos porta-vozes do Piratini, a venda total do banco era cogitada pelo mercado e por integrantes do governo federal, apesar das barreiras legais e políticas existentes.
Para privatizar o banco seria necessário consultar a população ou retirar da Constituição a exigência de plebiscito. Se não conseguiu até agora fazer isso com as estatais do setor elétrico, seria praticamente impossível obter aval da Assembleia para vender o Banrisul, uma empresa que não dá prejuízo. Ao contrário, repassa dividendos para o Estado. Não existe na sociedade um clamor pela venda do banco para tapar o rombo das contas públicas – e o governo sabe disso.
A partir de agora, o Piratini vai subir o tom com a oposição e intensificar a pressão sobre os deputados da base aliada. O discurso é de que a Assembleia será responsável por um eventual colapso dos serviços públicos se não der aval para a adesão ao regime de recuperação fiscal, que garantirá a suspensão do pagamento da dívida por no mínimo três anos e abrirá a possibilidade de tomada de novos empréstimos.
O projeto detalhando as contrapartidas exigidas pela União será encaminhado à Assembleia nos próximos dias, para votação em regime de urgência. São necessários 28 votos, mas o mais difícil ficará para o final do ano. Em dezembro, em convocação extraordinária, o governo tentará aprovar emendas que tiram da Constituição a necessidade de plebiscito para privatizar a CEEE, a CRM e a Sulgás, apesar de ter fracassado na tentativa anterior de não conseguir votar na Comissão de Constituição e Justiça a proposta de realização da consulta em outubro do ano que vem.
Aliás
Na próxima semana, o Piratini quer votar o projeto que acaba com a cedência de servidores para sindicatos, ao custo de R$ 1 milhão por mês. Pressionados pelas galerias, os deputados resistem.