O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Ao olhar para 2024, a agenda geopolítica foi intensa. Internacionalmente, houve mudanças históricas nos poderes, manifestações em diversos países, ascensões e quedas de líderes e novos conflitos.
Olhando para a América do Sul, pode-se destacar as eleições na Venezuela, por exemplo, que até hoje não foram apresentadas as atas da vitória do ditador Nicolás Maduro. Na Bolívia, uma tentativa de golpe de Estado e de derrubar o presidente Luis Arce. No Uruguai, o pupilo do ex-presidente Pepe Mujica, Yamandú Orsi, foi eleito presidente.
Claudia Sheinbaum foi eleita a primeira mulher na presidência do México. E nos Estados Unidos a eleição do republicano Donald Trump para o seu segundo mandato a frente da maior potência do mundo.
Na Europa, observou-se avanço de partidos de direita. Recentemente, instabilidade política na França. No Reino Unido, um trabalhista assumiu o posto de primeiro-ministro.
Ainda no velho continente, persiste a guerra entre Ucrânia e Rússia.
No Oriente Médio, persiste o conflito entre Israel e os grupos terroristas Hezbollah e Hamas. Também desencadeou, recentemente, um conflito na Síria, com a queda do ditador Bashar al-Assad.
Internacionalmente, acordos multilaterais foram firmados entre grupos de países.
O que olhar daqui para frente
Muitos do que ocorreu em 2024 seguirá na pauta de 2025. A coluna reuniu abaixo 10 pautas que se deve ter atenção a partir do ano que se inicia.
Brasil
De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2025, o país exercerá a presidência rotativa do Brics, sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. O grupo é formado por dez países, entre os quais Brasil, Rússia, China, África do Sul e Emirados Árabes Unidos. A última vez que o país presidiu o grupo foi há seis anos. Entre os principais assuntos que serão debatidos, estão a reforma das instituições de governança global; promoção do multilateralismo; combate à fome e à pobreza; redução da desigualdade; promoção do desenvolvimento sustentável.
Belém (PA)
Prevista para ocorrer em novembro de 2025, a capital do Pará, será a cidade sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30. Para o evento, é esperado um fluxo de mais de 40 mil visitantes, de diversos países do mundo. A COP29 ocorreu em Baku, no Azerbaijão, que, para alguns especialistas ambientais, não supriu as necessidades da agenda do clima do mundo, já que encerrou com um baixo orçamento para o financiamento dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento aplicar medidas de melhorias ambientais.
EUA
No dia 20 de janeiro, Donald Trump assume, pela segunda vez, a presidência dos Estados Unidos. O republicano, que venceu com larga folga da democrata Kamala Harris, assume um país com problemas centrais voltados para a economia. Entre as medidas que Trump afirmou, ainda durante campanha, que irá implantar está a deportação de imigrantes ilegais, um aumento do protecionismo, erguer uma muralha ao redor do país (principalmente na divisa com o México), diminuição de impostos, taxação de produtos chineses, a saída do Acordo de Paris, entre outras medidas. Apesar de não ter citado em campanha, há a expectativa de ele perdoar os envolvidos no ataque ao Capitólio em 2021.
Canadá
Em outubro 2025, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, mira a sua quarta disputa eleitoral. Contudo, a reta final de 2024 contou com dois reveses políticos. O Partido Liberal, o qual ele faz parte, perdeu duas eleições especiais esse ano, uma em Montreal e outra em Toronto, duas cidades importantes para o país. Essa derrota fez a pressão aumentar para que Trudeau se afaste da disputa. Em dezembro a vice-premiê e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, pediu demissão e isso fez parlamentares insistirem que Trudeau renuncie ao cargo.
Uruguai
Pupilo do ex-presidente Pepe Mujica, Yamandú Orsi, do partido de esquerda, toma posse como presidente do Uruguai em março. Ele substituirá Luis Alberto Lacalle Pou, do partido de centro-direita. Entre as principais bandeiras de Orsi, a criação de uma espécie de bolsa família; um plano para cursos técnicos; escola de tempo integral; entre outras medidas. Na parte econômica, buscará reduzir carga tributária, fomentar microempreendedor, e a criação de uma espécie de MEI. O seu grande desafio será fazer o equilíbrio entre manter jovens no Uruguai, manter investimentos, manter empresas.
Chile
Datadas para novembro de 2025, as eleições presidenciais ainda permanecem com o leque de para a sucessão do Palácio de La Moneda em aberto. Os principais nomes que já aparecem são do extremista Partido Republicano, Antonio Kast, que perdeu em 2021 para o atual presidente Gabriel Boric. Do lado da União Democrática Independente (UDI), o nome mais ventilado é de Evelyn Matthei. Há, também, a expectativa da ex-presidente Michelle Bachelet entrar na corrida e tentar um terceiro mandato, contudo a idade e o desgaste pode ser um impeditivo. No Chile não existe reeleição imediata, sendo assim, Boric não pode concorrer no pleito.
Argentina
Javier Milei termina o primeiro ano e o foco do argentino para 2025 é com as chamadas eleições de meio de ano, que irão eleger os próximos integrantes do Congresso. Atualmente, Milei não conta com a maioria do parlamento e o seu grande desafio será fortalecer o número de aliados tanto no Senado quanto na Câmara. Além disso, outros pontos que estarão no radar de Milei para 2025 é a liberação do controle cambial, o chamado de cepo, e conseguir aquecer a economia doméstica.
Bolívia
Em agosto de 2025, bolivianos irão às urnas e decidir o próximo presidente. No mês passado, partido Movimento ao Socialismo (MAS) ratificou a candidatura de Evo Morales. Porém, recentemente o Tribunal Constitucional da Bolívia decidiu pela proibição de um mandatário cumprir mais de dois mandatos, mesmo não consecutivos, o que impediria a candidatura. No mesmo partido e em cabo de guerra sobre o comando da legenda, está o atual presidente Luis Arce, que tentará a reeleição. No meio de 2024, a Bolívia viveu uma tentativa de golpe de Estado.
Alemanha
A eleição antecipada do Parlamento alemão, em fevereiro de 2025, definirá quem será o próximo chefe de governo da Alemanha. O bloco de centro-direita, formado pela União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), ambos partidos conservadores, colocará o nome de Friedrich Merz para a disputa. Embora o próprio Merz não seja muito popular, lidera pesquisas com pouco mais de 30% das intenções de voto. O SPD, liderado pelo chanceler federal Olaf Scholz, tentará a reeleição, que atualmente conta com 16% das intenções. A candidata da ultradireta Alice Weidel, por exemplo, defende sair da UE.
Mercosul e UE
Após mais de duas décadas de negociações, o Mercosul e a União Europeia chegaram finalmente à conclusão de um acordo comercial em novembro de 2024. Porém, não para por aí. A entrada em vigor dessa parceria ainda depende de algumas etapas formais. Os próximos passos até a entrada em vigor do acordo são os seguintes: revisão legal, tradução, assinatura, internalização, ratificação e, por último, a definitiva entrada em vigor. Diante de todas essas etapas burocráticas, o processo não finalizará antes da metade de 2025. No Brasil, por exemplo, é preciso da aprovação do Congresso. No caso da UE, é preciso a aprovação no Conselho Europeu.