O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O ano ainda não acabou para Moçambique, localizado ao sul da África, e vai começar 2025 também agitado. Há uma semana, a população vive cenário de manifestações que se intensificaram nas ruas diante do resultado das eleições presidenciais, ocorridas ainda em outubro. É a pior violência desde o fim da guerra civil, há 32 anos. Organizações da sociedade civil local apontam que mais de 250 pessoas já morreram nos conflitos.
Na última segunda-feira (23), o Conselho Constitucional - o tribunal superior do país - confirmou a vitória de Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), mesmo que observadores internacionais apontem irregularidades no processo.
Manifestantes acusam o partido, que está no poder no país desde a independência em 1975, de fraudar as eleições. Do outro lado, o candidato de oposição Venâncio Mondlane, do Partido dos Optimistas para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), alertou que um "caos" poderia ser instaurado no país caso a Frelimo continuasse no poder.
Como chegou neste cenário?
O descontentamento popular não começou agora. A insatisfação iniciou com denúncias de corrupção e escândalos de dívidas que quase colapsaram a economia do país, que é considerado um dos mais pobres do mundo. Ligado a isso, há um aumento da pobreza e desemprego.
Recentemente, Mondlane acusou as forças de segurança do país de permitir saques e vandalismo para dar ao governo um pretexto para declarar estado de exceção e reprimir os protestos. Na sexta-feira (27), Chapo apelou a “não violência” e à “unidade”.
Como o Brasil acompanha?
O país é um ponto estratégico que conecta o sul da África com outras partes do mundo. Além disso, conta com reservas de gás natural, que atraem investimentos estrangeiros.
O Brasil e Moçambique fazem parte do chamado "Sul Global", termo utilizado pelo presidente Lula e que refere-se a países localizados principalmente no hemisfério sul e que possuem desafios semelhantes de desenvolvimento econômico e social. Ambos países também possuem economias baseadas na exportação de commodities.
Diante da escalada de conflitos, o governo brasileiro emitiu uma nota na última sexta-feira (27) que acompanha com "preocupação" a repercussão do anúncio. Historicamente, há laços culturais e econômicos do Brasil com o país africano.
O temor agora se volta para 2025, já que o caos nas ruas tende a crescer e desembocar no dia 15 de janeiro, quando ocorre a posse de Chapo na presidência do país.