O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Histórico membro do partido Democrata, o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter faleceu aos 100 anos neste domingo (29). Ele liderou os EUA entre 1977 e 1981 e visitou o Brasil algumas vezes. A primeira, em 29 de março de 1978, foi durante o governo de Ernesto Geisel em meio a ditadura militar.
Carter era conhecido pela defesa dos direitos humanos diante das ditaduras que assolavam vários países da América do Sul. Um ano antes, a primeira-dama Rosalynn Carter visitou o Brasil e se encontrou com defensores da pauta, como o cardeal dom Paulo Evaristo Arns.
Jornais da época, como o Estadão, publicaram que a visita do presidente americano frustrou as expectativas dos brasileiros:
No País, a expectativa de que Carter demonstrasse uma posição firme frente às violações aos direitos humanos, cometidas pelo regime militar, foi frustrada. Enquanto a sociedade brasileira esperava do presidente americano - um democrata, ex- missionário que construiu sua imagem política em torno de uma retórica pacifista e conciliadora - uma posição crítica e reprovadora dos métodos utilizados pelos militares, provou o gosto amargo da Realpolitik de Carter. - Escreveu o Estadão em 30 de março de 1978.
A edição do dia 1º de abril, classificou que Carter fez apelos a uma "democracia relativa".
Sua passagem pelo Brasil foi marcada por discursos com menções, ligeiras, à “liberdade humana” e ao “Estado de Direito”, todos oferecendo saídas favoráveis para a interpretação oficial. Em uma dessas ocasiões, disse “hoje estamos todos unidos num esforço global em prol da causa da liberdade humana e do Estado de Direito”. Sem especificar quem seriam “todos”, o que poderia fazer dessa declaração uma clara reprovação aos meios empregados pelo regime, Carter pareceu apenas munir os teóricos da democracia relativa.
O jornal Zero Hora também noticiou, na época, a visita. O jornal destacou a agenda, que iniciou em Caracas, passou pelo Brasil e terminou na Nigéria.