Vinte anos após encerrar o primeiro mandato na prefeitura de Pelotas, Fernando Marroni (PT) foi empossado novamente como prefeito nesta quarta-feira (1º). Marroni recebeu o cargo de Paula Mascarenhas (PSDB) em ato no início da noite no auditório do Sicredi, que fica na região central da cidade.
Além de Marroni, tomou posse a vice-prefeita, Daniela Brizolara (PSOL), primeira mulher negra a ser vice-prefeita da cidade. Também foram apresentados 21 secretários que vão compor o primeiro escalão do governo e o presidente do Sanep, autarquia responsável pelo tratamento de água e esgoto.
Marcado para as 18h, o ato começou com mais de uma hora de atraso e foi precedido de uma cerimônia inter-religiosa. Marroni e Daniela assinaram a ata de posse às 19h27min, sob aplausos, gritos e agitos de bandeiras do PT e do PSOL.
Em seu primeiro pronunciamento, o novo prefeito prometeu um governo marcado por "diálogo, transparência e participação" e prometeu um choque nos serviços de zeladoria urbana, que está entre as principais queixas da população.
— Enquanto falo aqui, já tracei um plano de ação para uma virada nos serviços públicos. Teremos roçada, limpeza, patrola e reparos no nível de intensidade que nossa cidade precisa e merece — garantiu.
No discurso de despedida, Paula disse que, em seus oito anos como prefeita, trabalhou "de corpo e alma" pela cidade e recapitulou medidas do governo, com enfoque no Pacto Pelotas Pela Paz.
— Há valores fundamentais acima de todos nós, como a democracia. Olhar primeiro o que nos une, antes de sublinharmos nossas diferenças. Que continuemos a marcar nossas diferenças, sendo capazes de nos darmos as mãos quando interesses mais nobres exigirem isso de nós — disse a ex-prefeita.
Vitória acirrada
Fernando Marroni retorna à prefeitura após vencer a eleição mais acirrada da história recente de Pelotas. Ele recebeu 50,36% dos votos válidos no segundo turno e superou Marciano Perondi (PL) por margem apertadíssima, de 1.263 votos. Desde a primeira vitória, em 2000, ele havia concorrido outras três vezes, sendo derrotado no segundo turno em todas elas.
A posse do petista marca o fim da era tucana no município. Com Eduardo Leite e Paula Mascarenhas, duas vezes, o PSDB manteve-se no governo pelotense por 12 anos.
Pela frente, Marroni terá a missão de consolidar a governabilidade junto à Câmara de Vereadores. Eleito em coligação com o PSOL e outras siglas de esquerda, ele atraiu PP, MDB, PDT e PSB para gestão.
Ainda assim, um bloco de oposição ensaiou emplacar um nome para a presidência da Câmara de Vereadores, que desde novembro tem dificultado as ações do novo governo.
Após articulação entre vereadores de situação e independentes, o vereador Carlos Júnior (PSD) foi escolhido presidente por 12 votos a 9, o que indica uma apertada e volátil maioria para o petista neste começo de mandato.
No final do ano passado, os vereadores barraram a reforma administrativa proposta pelo atual prefeito, encaminhada por Paula durante o processo de transição. A ideia do petista era ampliar secretarias, mas diminuir cargos de confiança.
Sem a aprovação da medida, cinco secretários anunciados por Marroni não tomaram posse nesta quarta-feira. São titulares das pastas das Mulheres, de Turismo, da Igualdade Racial, de Comunicação e de Esportes.
A expectativa é de que a reforma administrativa seja reencaminhada ao Legislativo já na quinta-feira (2), podendo ser votada na semana que vem.
Na cerimônia de posse, o novo presidente da Câmara prometeu uma gestão independente.
— A Mesa Diretora eleita hoje não é de oposição nem de situação. Agirá em defesa dos projetos importantes para Pelotas, cumprirá o princípio da fiscalização e manterá uma relação respeitosa entre os poderes, sem qualquer relação de ódio e sim de construção, que fortaleça a democracia — afirmou Carlos Júnior.
Equilíbrio financeiro
Outro desafio do prefeito empossado será manter as contas em dia e garantir recursos para cumprir as promessas de campanha, que incluem maior cuidado com a zeladoria do município, uma das principais reclamações da população.
A Lei Orçamentária Anual de 2025 aprovada na Câmara prevê déficit de R$ 200 milhões neste ano. Valores que podem aumentar, segundo fontes ligadas ao governo, devido às autarquias municipais.
Além de buscar a reorganização do fluxo de caixa, Marroni aposta na parceria com o governo federal na busca por recursos a fundo perdido, além de uma aproximação com o governo estadual, que começou já no segundo turno das eleições municipais, quando o governador Eduardo Leite (PSDB) declarou voto no petista.
Perfil
Engenheiro eletricista, casado com a vereadora Miriam, pai de duas filhas e avô de dois netos, Marroni começou a atuação política ainda na década de 1980, na associação de funcionários da Universidade Federal de Pelotas.
Duas vezes deputado federal e uma vez deputado estadual, Marroni foi prefeito de Pelotas entre 2001 e 2005. Em 2022, não se reelegeu deputado estadual e, em 2023, foi presidente da Trensurb, empresa vinculada ao governo federal.