Vinte anos depois de deixar a prefeitura de Pelotas, Fernando Marroni (PT) foi escolhido pela população para retornar ao Paço Municipal. Com 50,36% dos votos válidos, Marroni venceu o segundo turno, disputado contra Marciano Perondi (PL), e governará o maior município do Sul do Estado pelos próximos quatro anos.
O petista saiu na frente desde o início da apuração, mas viu o adversário se aproximar ao longo da contagem dos votos. A vitória foi confirmada matematicamente pela Justiça Eleitoral apenas com 100% das urnas apuradas, às 19h14min. A diferença foi de apenas 1.263 votos, a mais apertada desde a redemocratização.
— Os pelotenses podem esperar muita democracia, muito diálogo e muito trabalho — prometeu o prefeito eleito, em entrevista logo após a vitória.
Marroni teve a primeira alegria do dia logo cedo, quando soube que a mãe, Lygia, de 102 anos, viria de Rio Grande para votar nele. Pouco depois do meio-dia, os dois entraram de braços dados no colégio São José para registrar o voto, na mesma seção. Marroni acompanhou a apuração em casa, junto de familiares e do deputado federal Dionilso Marcon.
Tão logo teve certeza da vitória, concedeu entrevista e foi caminhando até o comitê para celebrar com apoiadores junto da vice, Daniela Brizolara (PSOL).
Parte dos militantes, que aguardava em frente à residência, seguiu Marroni e Daniela bradando gritos de alegria e entoando o jingle da campanha, enquanto trocava abraços.
Com o triunfo de Marroni, Pelotas será a maior cidade governada pelo PT no Rio Grande do Sul. A legenda elegeu 20 prefeitos no Estado.
Vitória da insistência
Político experiente, Fernando Marroni foi premiado pela insistência em sua sexta tentativa de chegar à prefeitura desde 1996. Até então, só havia conseguido vencer em 2000. Foi prefeito da cidade entre 2001 e 2004.
Nesse meio tempo, foi três vezes deputado federal e cumpriu um mandato de deputado estadual.
Engenheiro eletricista, casado com a vereadora Miriam, pai de duas filhas e avô de dois netos, Marroni começou a atuação política ainda na década de 1980, na associação de funcionários da Universidade Federal de Pelotas. Aos 68 anos, seu último cargo público havia sido a presidência da Trensurb, entre 2023 e 2024.
Escolhido candidato pelo diretório local ainda no ano passado, fez uma campanha recuperando feitos de sua gestão na prefeitura e prometendo alinhar o município ao governo do Estado e, principalmente, ao governo federal, aplicando recursos de programas como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida.
Liderou o primeiro turno, com 39,6% dos votos válidos e, no segundo, recebeu o apoio do MDB e do PDT, que haviam lançado candidatura própria. Os acréscimos mais representativos, no entanto, vieram do PSDB, com as declarações de voto do governador Eduardo Leite e da prefeita Paula Mascarenhas.
No primeiro turno, Leite e Paula apoiaram o tucano Fernando Estima. No segundo, preferiram o opositor Marroni ao novato Perondi. Em carta, a prefeita argumentou que escolheu o "o campo democrático" e "o caminho mais seguro" para a cidade. Outro expoente tucano, o deputado Daniel Trzeciak ficou ao lado de Perondi.
Como foi a campanha
A campanha de segundo turno foi marcada por acirramento na reta final, com ataques de parte a parte e material apócrifo nas ruas. A Justiça Eleitoral chegou a ordenar busca e apreensão no comitê de Marroni para procurar supostos cartazes depreciativos a Perondi, mas nenhum material foi encontrado. De quebra, o petista conseguiu direito de resposta nas redes sociais e no horário eleitoral do adversário, que publicou imagens sobre a ocorrência. Por precaução, Marroni também passou a andar com segurança armada.
No dia da eleição, a campanha petista conseguiu medida liminar na Justiça Eleitoral para impedir panfletagem em favor de Perondi. Na ação, os advogados anexaram prints de mensagens no Whatsapp em que um indivíduo recruta pessoas para o trabalho, que ocorreria neste domingo, o que é proibido pela lei eleitoral.
Marroni ainda foi beneficiado por um grave deslize do adversário. Na última semana de campanha, Perondi parou para conversar com um eleitor no Mercado Central e pisou sobre o símbolo do orixá Bará, o que enfureceu representantes de religiões de matriz africana. O liberal tentou minimizar o impacto do episódio, mas o gesto rendeu um ato público contra ele e um conjunto de notas de repúdio.
Prometendo "reconstrução com o povo" em um dos slogans da campanha, o novo prefeito assumirá em janeiro com diferentes problemas no horizonte. A prefeitura, que chegou a atrasar salários por falta de recursos em 2023, decretou calamidade pública na enchente histórica de maio e convive com dificuldades para manter a zeladoria urbana, recuperar a pavimentação e fazer investimentos.
O primeiro desafio será formar uma base aliada na Câmara, visto que é apoiado por apenas sete dos 21 vereadores eleitos.