Secretário Extraordinário para a COP30, Valter Correia, está em Baku, onde mantém diálogos com o governo do Azerbaijão e as Nações Unidas sobre a logística para a próxima conferência, que ocorre em Belém, no Pará, no ano que vem. Ele conversou com a coluna.
Já é possível perceber, a partir do que o senhor está vendo em Baku, o que será fundamental aplicar em Belém?
Tenho participado de 10 a 15 reuniões diárias, tanto com o secretariado da ONU quanto com os organizadores do evento aqui. Para cada reunião, é uma frente diferente de trabalho que se abre, para a gente observar. Te garanto que todas foram fundamentais para uma melhor compreensão de tudo que temos de fazer. Estamos exatamente a um ano da nossa COP e isso é um marco bastante importante. Tivemos tanto briefing de logística quanto de segurança. Todos de fundamental importância, embora nada muito além do que já estávamos nos preparando. Estamos preparando planos de atuação em todas essas frentes: de segurança, já fizemos seis oficinas com todos os órgãos, Forças Armadas, Polícia Federal, Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e forças de segurança do governo do Estado e do município para que seja feita uma matriz de responsabilidade para todos. A mesma coisa estamos fazendo na questão da logística. Tem bastante coisa para fazer e estamos bem encaminhados.
Tanto em Dubai quanto aqui, em Baku, há metrô, transporte de massa da população. A falta desse meio de transporte é um dos gargalos em Belém?
Acredito que não, porque para chegar até aqui (no local da COP29, em Baku) e sair para o centro da cidade e para outros locais, o trânsito tem sido violentíssimo. Demoro uma hora praticamente para chegar do meu local de hospedagem. Estamos trabalhando esse plano de logística para Belém, para a rede metropolitana toda. Vamos fazer vias exclusivas, vai ter férias escolares para diminuir o problema. Estamos duplicando algumas vias. O plano vai contemplar essa preocupação de fazer escoar o mais rapidamente possível o acesso. Acho que não teremos grandes traumas em relação a isso. Vamos ter transporte próprio também para os locais, tanto da rede hoteleira quanto dos pontos mais turísticos da cidade, até o Parque da Cidade, onde vai ocorrer a COP. Posso te garantir: não teremos grandes problemas.
Chegou-se a se pensar em descentralizar a COP em função da rede hoteleira de Belém não ser suficiente. Isso ainda está sobre a mesa?
Para o governo, isso nunca esteve na pauta. Foram várias especulações de organizações, de alguns centros empresariais, de governadores de outros Estados, a própria mídia acabou também repercutindo, mas isso nunca esteve no nosso front. Sabe por quê? Porque nós já investimos mais de R$ 6 bilhões em infraestrutura e preparação para a COP. Não seria razoável você multiplicar esses esforços em outros locais. Temos clareza das dificuldades de fazer um evento desse porte em qualquer local do Brasil e da América Latina. Em Cáli (que sediou a COP da Biodiversidade), no mês passado, houve bastante problema. Em qualquer lugar você teria muita dificuldade. Óbvio que, em Belém, tem um pouco mais de dificuldade, mas, por isso, estamos nos preparando desde o começo do ano. Há quase 30 obras em execução, algumas em estágio mais avançado, outras menos, mas todas para serem concluídas antes da COP.
Que tipo de problema lhe preocupou em Cáli?
De alimentação um pouco precária, dos alojamentos, dos espaços de recepção das pessoas. Enfim, são dificuldades previsíveis até. Obviamente, não quero criticar Cáli. Sei da dificuldade que eles têm. Sabemos que qualquer cidade tem problema e vai continuar apresentando problema, a não ser uma Dubai (sede da COP28, no ano passado). A não ser, talvez, alguma outra grande capital do país, como São Paulo, Rio, talvez tivesse menos problema. No trânsito, duvido que não teríamos os mesmos problemas. Talvez tivéssemos menos problemas em infraestrutura, em hotéis. Mas a mobilidade urbana das grandes capitais é trágica.
Em Baku, percebe-se o esforço dos voluntários, mas dificuldade com o inglês para conversar com estrangeiros. O acesso a outros idiomas lhe preocupa em Belém?
Tanto o governo federal quanto o do Estado e do município estão já em um processo de capacitação intensa. Mais de 30 mil pessoas já passaram por essas atividades de capacitação, com cursos básicos, para que as pessoas possam se comunicar e se expressar nos seus serviços, como os "uber", restaurantes, hotelaria. Também outras questões de turismo, de recepção. Estamos tendo essa preocupação em preparar o melhor possível a população local. Vamos ter muitos voluntários também locais. Já temos um plano de trabalhar com eles com bastante antecedência. Se você reparar aqui, a gentileza que os voluntários estão demonstrando, a boa receptividade, compensa qualquer problema com a língua.
O Brasil está acostumado com grandes eventos: teve a Copa do Mundo, a Olimpíada. Mas obras ficaram inacabadas e estruturas em locais questionáveis subutilizados. Que legado a COP30 vai deixar?
Temos vários legados. Na questão física, temos todo o serviço de drenagem que está sendo feito e de saneamento básico, com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O governo do Estado está construindo com o recurso de Itaipu um hotel, que estamos chamando de Cidade COP, com quase 500 apartamentos, que depois vai ficar como legado. Toda a parte de reforma das estruturas turísticas, no centro da cidade, estão sendo feitos alguns boulevares. Essas obras vão ficar e vão mudar a cara da cidade.
Muitas obras da Copa não foram concluídas.
Muitas obras que foram pensadas para a Copa do Mundo acabaram não sendo terminadas em tempo hábil. Há algumas que até hoje ainda estão em fase de conclusão, como metrôs e outros lugares em alguns grandes centros. Aqui, nós só estamos começando obras que vão ser terminadas. Essa foi uma condição colocada desde o início pelo governo federal, pelo presidente Lula. Só começamos uma obra se for concluída em tempo hábil.
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