É preocupante que, menos de dois meses depois da maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul e em meio a claros sinais de avanço das mudanças climáticas, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sofra cortes de funcionários por falta de orçamento.
O órgão está sob o guarda-chuva do Ministério da Agricultura e Pecuária. A falta de recursos levou a demissão de 40 dos seus 208 profissionais terceirizados, incluindo meteorologistas.
De nada adianta o discurso oficial do governo federal, supostamente ocupado com as alterações climáticas, se, na prática, observa-se o desmonte de órgãos cujo trabalho tem impacto direto na previsão do tempo. Ora, o agronegócio, o turismo, o transporte aéreo, a navegação e, em última análise, nossas vidas diárias são — e cada vez mais serão — afetadas pelas condições meteorológicas.
Pasmem, o Rio Grande do Sul, por exemplo, tem apenas dois meteorologistas do Inmet. Em termos de equipamentos, são três radares meteorológicos em funcionamento para rastrear a situação no Estado —um em Canguçu, outro em Santiago e um terceiro, em Urupema, Santa Catarina, o que mais tem sido utilizado para monitorar a Região Metropolitana. Esses equipamentos servem para captar mudanças drásticas, de curtíssimo prazo, nas condições do tempo. São fundamentais para prevenir tragédias.
O governador Eduardo Leite anunciou investimento de quase R$ 3 milhões na manutenção e qualificação de radar meteorológico da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). E um novo deve ser instalado em Montenegro. Meteorologistas, no entanto, alertam que, para uma aferição mais precisa, o número de radares deveria ser maior. Outro alerta é para a falta de um Centro Estadual de Meteorologia no Estado, a exemplo do Sistema Meteorológico do Paraná (Cimepar) e do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram).
Os cortes no Inmet já foram feitos. A boa notícia é que, após gestões em Brasília, o ministério teria se mostrado, segundo fontes disseram à coluna, sensível a aumentar orçamento do órgão para contratações e investimentos em equipamentos. A última entrada de servidores ocorreu em 2006. Desde então, o número de meteorologistas caiu de 71 para 27. O último concurso, anunciado em 2015, foi cancelado.