Não é por acaso o movimento de Elon Musk de ameaçar desobedecer ordens judiciais no Brasil, criticar o ministro Alexandre de Moraes e, por tabela, agitar os partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O bilionário dono do "X", antigo Twitter, lança mão, de sua prateleira de táticas da alt-righ (a direita alternativa), do vitimismo daqueles que se dizem alvo da "ditadura da toga", das narrativas de que não haveria liberdade de expressão no Brasil e suposta perseguição de quem pensa diferente da esquerda. Ao mesmo tempo, ele monta uma armadilha: se descumprir determinações do Judiciário brasileiro, será punido ou terá de retirar sua empresa do Brasil, o que retroalimentaria a narrativa da perseguição.
Nada de novo no front. Musk resolveu alfinetar o Supremo brasileiro e mexer com os ânimos de apoiadores de Bolsonaro já de olho na eleição de novembro, nos Estados Unidos.
Vale lembrar o que ocorreu lá nos últimos tempos: Donald Trump foi banido do antigo Twitter em 8 de janeiro de 2021, dois dias após os ataques ao Capitólio. Na época, a plataforma justificou a decisão dizendo que o bloqueio da conta se deu por “risco de mais incitação à violência”. Musk, tão logo comprou a rede social, em 2022, trouxe de volta o perfil do ex-presidente que, primeiro desdenhou, dizendo já ter sua própria rede, a Truth Social, mas depois aceitou voltar. O X já não era o Twitter e, sob Munsk, havia bem menos filtros contra discursos de ódio e desinformação.
Com a polêmica do fim de semana Musk angariou apoio de aliados que reconhecem na alt-right o novo bastião contra o chamado globalismo. Vieram apoios da Hungria de Victor Orbán e da Argentina de Javier Milei. Ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o general Mike Flynn usou o X nesta segunda-feira (8) para sugerir: "Elon Musk, dados os acontecimentos recentes no Brasil, diga-nos como podemos ajudar". Vale lembrar também quem é Flynn: um dos primeiros militares a entrar no gabinete de Trump, foi demitido 22 dias depois de assumir o posto porque fizera promessas ao embaixador russo em Washington durante a campanha, em meio a suspeitas de interferência do país de Vladimir Putin nas eleições de 2016. Depois, em depoimento, mentiu ao FBI. Tempo depois, recebeu o perdão presidencial.
Nas últimas semanas, Trump se reuniu com Musk em busca de financiamento para a disputa com Joe Biden. O Brasil acaba de entrar em campanha presidencial. Nos Estados Unidos.