Já afirmei aqui, em uma coluna anterior, na sexta-feira (19), que Donald Trump é imbatível. Será ele o candidato nomeado do Partido Republicano para disputar, de novo, a presidência dos Estados Unidos.
Se seu nome irá constar nas cédulas eleitorais em novembro, é outra discussão - que a Justiça americana está fazendo. E se ele tem chances de vencer Joe Biden (e acho que tem), em uma revanche de 2020, é uma conversa mais longa ainda.
Por enquanto, fiquemos com o cenário atual, após suas duas vitórias nas prévias da legenda até agora - Iowa, em que Trump venceu de forma avassaladora, com diferença de 30 pontos percentuais em relação ao governador da Flórida, Ron DeSantis, o segundo colocado, que abandonou a disputa; e New Hampshire, na terça-feira (23), em que o ex-presidente voltou a ganhar, dessa vez com uma vantagem de 11,3 pontos em relação à concorrente direta, a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley.
Tudo indica que essa será uma das corridas pela nomeação do partido mais curtas e rápidas da história dos republicanos.
Trump está praticamente escolhido. A dúvida é até quando Nikki irá permanecer na disputa e o quanto irá resistir à pressão dos correligionários para que desista. Outro ponto é até quando os financiadores de campanha ficarão a seu lado - sabe-se que, nos EUA, quando os ventos eleitorais começam a soprar contra, o dinheiro rapidamente migra para o oponente.
Nikki luta até contra a tradição política americana. Nenhum postulante a chegar à Casa Branca alcançou a nomeação tendo perdido as duas primeiras etapas da corrida: Iowa e New Hampshire.
Ao insistir em permanecer na disputa, pelo menos até as prévias na Carolina do Sul, seu feudo político, no dia 24 de fevereiro, a ex-governadora, ao menos, dá tempo à Justiça, onde Trump é alvo de processos civis e criminais.
Um mês é muito pouco para o timing dos tribunais. Mas, ao menos, a reputação do ex-presidente pode ser sangrada um pouco mais, na visão dos oponentes - ainda que os seguidores de Trump pouco estejam preocupados com os processos. Na minha visão, as ações na Justiça, inclusive por incitar rebelião, alimentam a narrativa dos trumpistas segundo a qual seu líder é vítima de perseguição e, supostamente, teria vencido a eleição de 2020.
Fake news, sabe-se, vitaminam Trump.
Ao adiar o abandono da disputa, Nikki, quem sabe, possa imaginar que estaria dando tempo para que os correligionários republicanos avaliem alternativas a Trump (algo pouco útil no atual momento) ou evoluam na reflexão sobre como a legenda chegou a esse grau de dependência do trumpismo (relevante no campo político, mas pouco prático).
Como era esperado, Trump mostrou em New Hampshire o quanto disputar com uma mulher mexe com seus valores: voltou a ser agressivo, machista e debochou da adversária, mesmo depois de ter se consagrado vencedor . Chamou Nikki de impostora e, aparentemente, estava irritado por ela não ter desistido após a derrota.
A realidade dos fatos mostra que o caminho para a ex-governadora está, mesmo, perto do fim, embora ela não admita publicamente. As próximas prévias serão em Nevada, em 6 de fevereiro (em que Trump deve dominar de novo), mas os olhos estão voltados, agora, para a Carolina do Sul, no dia 24. Um mês é um longo período em uma campanha frenética como a americana - e qualquer fato novo pode movimentar o tabuleiro de xadrez. Já se sabe que a campanha de Nikki está investindo US$ 4 milhões em propaganda de TV no Estado.
É bastante, mesmo para os padrões americanos das campanhas de milhões. Mas Nikki não empolga os eleitores. Ela é infinitamente mais bem preparada do que Trump. É experiente, cerebral, acumula anos na diplomacia internacional, mas sua candidatura não decola - talvez até por isso. Seu perfil está muito mais próximo de personalidades como Hillary Clinton, do establishment, das elites universitárias rejeitadas pelos grotões americanos. Internamente, Nikki não consegue encarnar a figura do anti-Trump, e seu argumento para que os militantes deixem de votar no ex-presidente é ingênuo, para não dizer falso: "um fraco histórico eleitoral".
Não é verdade. Trump, embora não tenha vencido Biden na disputa eleitoral de 2020, foi o segundo candidato mais votado na história dos Estados Unidos.