Até alguns meses atrás, Ron DeSantis era a reencarnação, em vida, de Donald Trump, seu provável herdeiro político.
No primeiro mandato como governador da Flórida, seguiu, durante a pandemia de covid-19, a cartilha anticiência do então presidente: no começo da crise sanitária, até aplicou medidas importantes para reduzir a propagação da covid-19, como um lockdown em todo o Estado, mas logo voltou atrás, suspendendo as medidas restritivas e se opondo a obrigatoriedade ao uso de máscaras.
Ele também expandiu, com nenhum outro governador, o direito ao uso de armas de fogo, assinou projeto de lei que proíbe abortos após seis semanas de gestação e condenou a política migratória do atual presidente Joe Biden.
Em uma de suas ações mais polêmicas, talvez você lembre, ele comprou briga até com a Disney. A novela ainda não teve fim, mas, grosso modo, a gigante do entretenimento e o governador travam uma guerra de ações judiciais, que começou depois que a Disney criticou uma lei estadual que proíbe a discussão sobre orientação sexual ou identidade de gênero nas escolas primárias da Flórida. DeSantis, por sua vez, tenta anular o acordo que permite à Disney exercer poder de governo no território dos parques, em Orlando.
Pois bem, o "futuro" herdeiro de Trump virou passado - abandonou, no final de semana, a corrida pela indicação do Partido Republicano para disputar a Casa Branca depois da acachapante derrota no caucus de Iowa.
Sua saída da corrida eleitoral coloca, agora, Nikki Haley cara a cara com Trump, algo que a governadora da Carolina do Sul desejava como estratégia política - e que pode ser o pesadelo do ex-presidente. Como ele irá lidar com uma nova adversária mulher, é uma grande incógnita. Normalmente, ele costuma revelar sua essência nesses casos, como já mostrara enfrentando Hillary Clinton, em 2016. Trump, sabe-se, é machista, misógino e sexista - atitude que reforça o apoio de sua base mais fiel, mas afasta os republicanos moderados.
A missão de Nikki é unir o resto da legenda contra o trumpismo, grupo político que sequestrou o partido.
Se Iowa era o termômetro do que pensa o republicano dos grotões da América. New Hampshire representa o indicador do eleitor conservador não trumpista, por vezes sequer filiado ao partido. Na prévia desta terça-feira (23) naquele pequeno Estado - que dá ao vencedor no dia da eleição apenas quatro delegados no colégio eleitoral - o decisivo não será a provável vitória d Trump, mas a diferença em relação a Nikki. Se for por menos de 10 pontos, ela segue no páreo até a disputa em seu Estado natal, a Carolina do Sul, em 24 de fevereiro, e depois na Superterça.
A título de curiosidade, New Hampshire costuma surpreender tanto republicanos quanto democratas: em 2000, John McCain venceu George W. Bush, que se tornaria presidente ao final da corrida, na disputa interna. Antes, em 2008, Hillary Clinton derrotou Barack Obama no Estado depois de perder para o senador no caucus de Iowa.