A oposição volta às ruas nesta quinta-feira (9) para marchar contra a posse do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em um dia de grande tensão que começa com a promessa de María Corina Machado de sair da clandestinidade e liderar um "dia histórico".
O chavismo também convocou uma manifestação paralela em apoio a Maduro, que na sexta-feira assumirá seu controverso terceiro mandato consecutivo de seis anos, em meio a uma nova onda de prisões de opositores e líderes da sociedade civil que levou à condenação internacional.
Machado acusa Maduro de "roubar" as eleições de 28 de julho e reivindica a vitória de Edmundo González Urrutia, que chega à República Dominicana para a última escala de uma viagem com destino incerto: quer voar para seu país para assumir o poder, mas o plano parece improvável.
"Vamos nos encontrar em toda a Venezuela, com serenidade, com firmeza e com a mesma energia que saímos em 28 de julho para ganhar", escreveu Machado no X.
- "São o passado!" -
As ruas de Caracas estavam desertas durante a manhã desta quinta-feira, e tomadas por agentes de segurança fortemente armados.
Os protestos da oposição desafiam o medo que se instalou em julho após uma repressão brutal às manifestações que eclodiram depois do anúncio da posse do líder esquerdista, deixando 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 presos.
Dezenas de policiais e agentes do serviço de inteligência foram destacados em pontos de encontro da oposição, onde o chavismo já instalou palanques com música alta.
"Não há palco que possa tirar a esperança. Eles são o passado!", exclamou uma mulher no distrito comercial de Chacao.
"Eu não os quero, saiam!", disse Regina, de 70 anos, que carregava uma bolsa com as cores da bandeira venezuelana.
Por questões de segurança, Machado não revelou de qual delas sairá. "Eu não perderia esse dia histórico por nada no mundo", disse a líder opositora em entrevista à AFP na segunda-feira.
- Funcionário do FBI preso -
O governo, que frequentemente denuncia os planos dos Estados Unidos e da Colômbia de derrubar Maduro, anunciou a prisão de sete "mercenários", incluindo dois americanos: "um funcionário de alto escalão do FBI" e "uma autoridade militar".
O Departamento de Estado classificou a acusação como "falsa", segundo um porta-voz. "Como Maduro e seus sócios demonstraram no passado, eles deterão e prenderão, sem justificativa ou devido processo, cidadãos americanos que entrarem na Venezuela", afirmou sob condição de anonimato.
Uma onda de relatos de detenções foi registrada desde terça-feira à noite, com pelo menos dez prisões. Entre os presos estão Carlos Correa, conhecido ativista dedicado à defesa da liberdade de expressão, e Enrique Márquez, candidato da oposição minoritária nas eleições presidenciais que contestou sem sucesso perante o tribunal superior a certificação da reeleição de Maduro.
Antes, foi o genro de González Urrutia, Rafael Tudares, que estava com os filhos quando foi preso por policiais encapuzados.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, vinculou Márquez e Tudares ao suposto agente do FBI e a um plano de golpe de Estado.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, mostrou-se "profundamente preocupado" com estas prisões, assim como os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron.
- Voo para Caracas -
A cerimônia de posse presidencial está marcada para sexta-feira, 10 de janeiro, ao meio-dia (13h em Brasília), no Parlamento, controlado pelo chavismo.
González Urrutia, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após uma ordem de prisão, disse que quer retornar à Venezuela para assumir o poder.
Ele está em uma viagem que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Joe Biden e representantes de seu futuro sucessor, Donald Trump. Depois, foi ao Panamá, onde entregou à polícia as atas emitidas pelas urnas para comprovar a vitória da oposição, que o chavismo considera falsas.
A última parada é a República Dominicana, onde ele planeja se encontrar com o presidente Luis Abinader, antes de avaliar a possibilidade de um voo de uma hora para Caracas.
De qualquer forma, as autoridades venezuelanas - que oferecem 100 mil dólares (613 mil reais) por sua prisão - já alertaram que, se ele chegar ao país, "será preso imediatamente" e seus companheiros internacionais serão tratados como "invasores".
* AFP