A agenda de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro dia útil de mandato denota a importância que seu governo pretende dar à agenda externa. Melhorar a imagem do Brasil no Exterior, retomar laços históricos, reconstruir pontes com parceiros na América Latina, na América do Norte, na Europa e com o Extremo Oriente têm sido expressões utilizadas por interlocutores do governo em áreas que vão além das relações internacionais: passam por meio ambiente, comércio exterior, Defesa e até o Ministério da Justiça, quando o tema é combate a crimes na Amazônia, floresta compartilhada com outros oito países vizinhos.
Nesta segunda-feira (2), enquanto algumas delegações tomavam o rumo do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, no final da Asa Sul, em Brasília, outras dirigiam-se de volta ao majestoso Palácio do Itamaraty, onde na noite anterior ocorrera a recepção após a posse. Agora, o objetivo era encontros privados com o presidente.
Lula passou o dia lá. Foram 14 reuniões de meia hora no máximo, das 9h30min até as 18h. Pausa só para o almoço.
É possível reunir os líderes estrangeiros e seus países em grupos de interesse: o rei da Espanha, Felipe VI, e o presidente português, Marcelo Rebelo, entram no quesito relações históricas com a Península Ibérica. China, que compõe um grupo a parte, pela importância do dragão oriental na balança comercial, foi representada pelo vice-presidente de Xi Jinping, Wang Quishan. O mais volumoso era o grupo dos vizinhos latino-americanos e caribenhos: da região, Lula teve encontros com os presidentes de Bolívia, Chile, Argentina, Equador, Colômbia, Honduras, com o vice de Cuba, Salvador Antonio Valdés Mesa, com o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodriges, e com o presidente do Conselho de Ministros do Peru, Luis Alberto Otárola Penaranda. O brasileiro ainda se reuniu com os representantes de Angola e Timor Leste, que entram, com Portugal, na cota da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e de Mali.
Com quatro nações, o Brasil teve intenso envolvimento nas últimas décadas, enviando tropas de paz por meio das Nações Unidas a Angola, Peru, Equador e Timor Leste. E, durante a crise da deposição do governo do então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, Lula o protegeu na embaixada em Tegucigalpa por meses. Xiomara, hoje no poder no país centro-americano e que na segunda-feira (2) esteve com Lula em Brasília, é esposa de Zelaya. Venezuela e Cuba mantêm relações históricas com o PT, embora as violações aos direitos humanos constranjam a esquerda no continente.