Barack Obama teve Osama bin Laden. Donald Trump, teve Abu Bakr al-Baghdadi e o general Qasem Soleimani. Nesta quinta-feira (3), Joe Biden acabou de obter, na bandeja, a cabeça de um terrorista: Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi.
Menos conhecido do que os demais, Al-Qurayshi era o líder que substituiu Al-Baghdadi no comando do Estado Islâmico (EI) tão logo o chefe foi morto, em 2019. Aliás, essa foi a maior operação americana antiterrorismo na Síria desde a eliminação do próprio Al-Baghdadi, o histórico líder do EI.
Na ação desta quarta, com forças especiais americanas, morreram pelo menos 13 civis, entre os quais quatro mulheres e seis crianças. Como Al-Qurayshi teria acionado uma bomba, segundo fontes do governo, as vítimas podem ser membros de sua família que estavam junto a ele, mas, oficialmente, o Pentágono não confirma a informação.
Al-Qurayshi nasceu em Mossul, no Iraque, em 1976. Teria atuado diretamente em sequestros, assassinatos e no tráfico de seres humanos. Conforme reportagem do The Washington Post, o terrorista chegou a ser informante dos EUA no final dos anos 2000. Teria ajudado a identificar líderes do EI no Iraque entre 2007 e 2008.
Entre os jihadistas concentrados no noroeste da Síria estão os membros da facção Huras al-Din (guardiões da religião), que é filiada à rede Al-Qaeda. Já o EI há muitos anos teve seu poder de fogo reduzido, desde que foi enxotado do Iraque para a Síria e seus principais líderes, entre eles Al-Badhdadi, foram eliminados.
A ofensiva americana, neste momento, pode ter três significados. O primeiro, apenas uma ação de oportunidade: um terrorista é identificado a partir do rastreamento de drones ou informações em terra e a ação fulminante é deflagrada, com ordem do presidente, para neutralizá-lo. Sem grandes planejamentos ou antecipações.
O segundo: algo planejado para enviar um recado de força ao presidente Vladimir Putin, no momento em que os EUA e a Rússia vivem sua maior crise política desde 2014 por causa da Ucrânia. Os EUA retiraram suas forças da Síria do ditador Bashar al-Assad, e, desde então, o Kremlin ocupou o vácuo político no país - com papel preponderante de Putin como "pacificador". Uma ação de infiltração de forças especiais no terreno sírio, afinal, um país soberano, cumpriria muito bem o papel de demonstração de poder em uma zona de influência russa.
Terceiro: no anedotário da Casa Branca, costuma-se dizer que, presidentes com popularidade em baixa ou questionados, não demoram muito a arrumar uma guerra. No caso da Ucrânia, talvez a conta seja alta demais. Mas eliminar um terrorista, nas palavras do Biden no comunicado dessa quarta-feira (3) "para proteger o povo americano e nossos aliados e tornar o mundo um lugar mais seguro", sempre rende alguns pontos domésticos.