A bordo do porta-aviões Abraham Lincoln, o então presidente George W. Bush anunciou em 1 de maio de 2003 o fim das principais operações militares no Iraque. Contavam-se 42 dias da invasão fulminante pelo deserto, a tomada de Bagdá e a queda do regime de Saddam Hussein. Para os americanos – e para boa parte do mundo –, era o fim da guerra.
O que poucos sabiam é que, no coração sunita iraquiano estava sendo gestado um mal bem pior do que a rede Al-Qaeda ou a ditadura do partido Baath. Nascia a insurgência. A guerra de Bush tornara o Iraque um imã para jihadistas do mundo inteiro. "As principais operações", nas palavras de Bush, tinham acabado. Mas a verdadeira guerra mal estava começando, e os EUA veriam muitos caixões envoltos com bandeiras americanas voltarem para casa até que Barack Obama, em outubro de 2011, anuciasse a retirada das tropas.
Houve outras datas simbólicas, por certo: o enforcamento de Saddam, condenado a morte por um tribunal iraquiano, e a passagem de comando do país para os iraquianos, em junho de 2004, com a dissolução da Autoridade Provisória da Coalizão e a criação do Conselho de governo transitório, por exemplo. Mas o conflito nunca acabou.
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O Iraque assumiu de volta as rédeas de seu país, mas, na prática, controlava só parte do território – basicamente a região de Bagdá. O resto do desértico país, estava nas mãos do grupo terrorista Estado Islâmico, que implantou em Mossul a capital de seu mentiroso califado. O primeiro passo a verdadeira libertação do Iraque foi dado em Ramadi, onde estive por ZH em maio do ano passado. Dali, as tropas iraquianas pavimentaram o caminho até Mossul, tomando, na sequência, a cidade de Fallujah. Foram nove meses de batalhas até o dia de hoje, quando o anúncio do primeiro-ministro iraquiano, Haider Al-Abadi, proclamou a vitória em Mossul. A tomada da cidade é emblemática porque foi ali que o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi (que até agora não se sabe se está vivo ou morto) anunciou, do púlpito da Grande Mesquita de Al-Nuri, o nascimento da organização terrorista. O chamamento ("Corram, ó muçulmanos, para o seu Estado. Sim, é o seu estado. Corram, porque a Síria não é para os sírios, e o Iraque não é para os iraquianos") consagrou o momento em que os iraquianos sofriam uma derrota vergonhosa.
Hoje, domingo, 9 de julho de 2017, 14 anos depois de Bush subir no porta-aviões, constitui-se o verdadeiro fim da guerra do Iraque.
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