O príncipe Mohammed bin Salman, com quem o presidente Jair Bolsonaro disse "ter afinidade", é herdeiro do trono dos Saud, família que comanda a Arábia Saudita, e um dos homens mais enigmáticos do atual cenário mundial.
MBS, como é conhecido, gosta de aparecer como o modernizador do país, uma ditadura teocrática assentada sobre o petróleo do Golfo Pérsico.
No ano passado, o príncipe decidiu que as mulheres poderiam dirigir veículos no reino — era o único país do mundo onde isso ainda não era permitido. Por trás do suposto modernismo do herdeiro, está um esforço para tentar limpar a imagem de uma das nações mais fechadas do planeta: que, por anos, impõe um regime de segregação contra as mulheres e os gays, proíbe igrejas e sinagogas e apoia o ramo do islamismo chamado wahabismo, que manchou de sangue a religião. O filho mais conhecido dessa facção é Osama bin Laden, terrorista que manteve relações com a família real saudita muito antes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
A Arábia Saudita, nação de Bin Salman, é uma monarquia feudal que despreza os direitos humanos, não tolera outras religiões que não seja o Islã e que se posiciona como a última barreira diante da crescente influência do Irã. O príncipe comanda o país na prática — embora o trono ainda esteja com o pai, Salman bin Abdul-Aziz al-Saud. Aos 43 anos, ele é ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro. É dele a missão de levar a Arábia Saudita a conquistar a hegemonia política do Oriente Médio contra o avanço dos iranianos.
O Iêmen é o campo de batalha dessas duas forças — iranianos (xiitas, representados pelos rebeldes houthis) lutam contra sauditas (sunitas, grupo religioso do governo iemenita). O país de Bin Salman lidera a coalizão de nações árabes acusada de cometer crimes de guerra no Iêmen, com armas vendidas pelo Ocidente, em especial dos Estados Unidos que fecharam, no governo Donald Trump, um acordo de US$ 8,1 bilhões. Já foram encontrados resquícios de armamentos brasileiros também no front: há anos, o Brasil exporta munições cluster (bombas de fragmentação) para os sauditas, segundo organizações como Human Rights Watch. Esse armamento é proibido por um tratado internacional de 2008, que tem a adesão de 102 países, mas não do Brasil.
O herdeiro da casa de Saud gasta milhões de petrodólares em marketing para construir e manter a imagem de moderninho. Sempre que pode, aparece com seu sorriso enigmático ao lado de líderes globais. Foi assim na Copa da Rússia, quando, sentado ao lado de Vladimir Putin, na tribuna do estádio Luzhniki, em Moscou, assistiu à partida de abertura entre Rússia e Arábia Saudita. O futebol é sua grande estratégia de influência, o soft power das relações internacionais. Ele inclusive conseguiu levar a Seleção Brasileira para jogar contra a Argentina em Jedá, antes do Mundial.
MSB é uma espécie de déspota esclarecido do século 21: moderniza o reino à força, perseguindo opositores. Apesar de todo o dinheiro que gasta para tentar desfazer a imagem de autocrata, pesa sobre ele a acusação de ter sido o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, ocorrido no dia 2 de outubro de 2018.
O colunista do The Washington Post denunciava os métodos autoritários do regime. Foi morto depois de entrar no consulado saudita em Istambul, na Turquia. Seu corpo foi fatiado, e os restos, dissolvidos em ácido. Investigações da CIA (agência de inteligência americana) apontam para o príncipe Bin Salman.