As declarações dos presidentes nos jardins da Casa Branca costumam ser, além de prestação de contas a suas populações, recados ao mundo — a aliados e a inimigos. E foi o que fizeram o anfitrião Donald Trump e Jair Bolsonaro nesta terça-feira (19): deram um sonoro "não ao comunismo no continente". Leia-se o aumento da pressão sobre a Venezuela do ditador Nicolás Maduro e um alerta a Cuba e Nicarágua.
Como já havia feito no Salão Oval, Trump voltou a falar que "todas as opções estão sobre a mesa" em relação à Venezuela, frase icônica dos presidentes americanos para dizer que uma intervenção militar não está descartada.
Chamado de "Trump dos trópicos" pela Fox News, Bolsonaro, visivelmente feliz ao lado de seu ídolo, só amarelou o sorriso quando foi questionado se o Brasil apoiaria uma ação armada dos Estados Unidos para derrubar Maduro. O presidente tergiversou, afirmando que há certos assuntos que não podem ser divulgados por "questões estratégicas". Não negou nem confirmou. Mas deu margem para pensar que existe um plano sigiloso para troca de regime em Caracas.
Pelas palavras ditas e não ditas, o tema imperou na ala oeste da Casa Branca, do almoço à conversa do Salão Oval – onde, aliás, quem estava ao lado do presidente era o filho Eduardo Bolsonaro e não o chanceler Ernesto Araújo, em claro desprestígio ao Itamaraty.
Ao ser perguntado como o Brasil se relacionará com os Estados Unidos em caso de vitória dos democratas nas eleições presidenciais de 2020, Bolsonaro abriu o voto, dizendo acreditar na reeleição de Trump. Não chega a ser uma gafe, mas do ponto de vista diplomático, frases do tipo são vistas como intromissão em assuntos internos de outro país. No caso americano, as feridas da eleição de 2016 ainda estão abertas, a oposição saiu vitoriosa do pleito de meio de mandato, no ano passado, e a nação segue dividida.
Em Washington, a delegação brasileira não teve nenhum encontro com os democratas — em parte por causa do recesso do Congresso, em parte porque não fez muita questão. É perigoso que um país se relacione apenas com quem ora está no poder. E se o jogo virar daqui a menos de dois anos? Governos passam. Estados ficam.