Bom humor e simpatia marcaram os primeiros minutos entre Donald Trump e Jair Bolsonaro, que foi chamado de "Trump dos trópicos" por parte da imprensa americana, nesta terça-feira (19) em Washington.
A parte simbólica fica por conta da troca de camisetas das seleções de futebol – o americano presenteou o brasileiro com a da equipe feminina (número 19), enquanto Bolsonaro retribuiu com a verde-amarela (10). Mas, para além das gentilezas, também nas palavras e sorrisos se pode perceber o alinhamento ideológico entre os dois líderes, que visivelmente se colocaram como fãs um do outro. Trump, aliás, foi muito mais simpático do que costuma ser quando recebe um convidado na Ala Oeste da Casa Branca, basta lembrar o episódio constrangedor com Angela Merkel no passado.
Não se pode falar em uma nova era das relações com os Estados Unidos, como deu a entender Bolsonaro em sua declaração, ao dizer que houve décadas de presidentes antiamericanos antes de ele chegar ao Planalto. Houve atritos entre Dilma Rousseff e Barack Obama, por exemplo, em razão da espionagem americana, mas, de forma geral, o clima entre os dois países nunca foi ruim, muito menos de "antiamericanismo". Que o digam os encontros entre Obama e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o americano chamou o brasileiro de "O Cara". Mas também Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, Fernando Collor de Melo e José Sarney tiveram relações amistosas com os inquilinos da Casa Branca. Michel Temer teve pouco tempo para estreitar laços.
Nas primeiras declarações desta terça-feira, antes do encontro privado, ficou muito claro que Trump espera do Brasil uma atuação forte em relação à Venezuela. Em duas ocasiões, o presidente americano voltou a referir que "todas as opções estão sobre a mesa", expressão utilizada tradicionalmente pelos presidentes americanos para afirmar que uma intervenção militar não é descartada.
– É uma vergonha o que está acontecendo na Venezuela. Vamos falar disso profundamente – antecipou.
Questionado pela repórter da Globonews Raquel Krähenbühl se o Brasil pode ser envolvido em uma ação militar no país de Nicolás Maduro, Trump desconversou:
– Todas as opções estão na mesa. Não discutimos ainda. Vamos falar sobre isso hoje.
A insistência na opção militar pode ser um ponto de divergência entre os dois governos – os generais do Planalto têm descartado uma intervenção no país vizinho. Os americanos esperam do Brasil mais atitude, maior pressão, sobre Maduro.
Do ponto de vista econômico, Trump afirmou:
– O Brasil produz vários produtos, e nós, também. Mas nossas relações comerciais nunca foram tão boas quanto deveriam ter sido.
As declarações de Bolsonaro e sua delegação em Washington nos últimos dias indicam que o prometido alinhamento automático pelo governo brasileiro não é, assim, tão imediato quanto parece. As relações com a China são um ponto de divergência. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a relação com os EUA foi negligenciada por anos em detrimento da China. Mas tem deixado claro que não irá prescindir das relações comerciais com os chineses.