Eles são ricos, desenvolvidos e seguros. Palco do massacre em duas mesquitas, a Nova Zelândia é um país com altíssimos índices de desenvolvimento humano e educação e baixíssimos percentuais de criminalidade.
Para se ter uma ideia, o total de mortos no ataque desta sexta-feira (15), noite de quinta (14) no Brasil, é superior à soma de assassinatos no país ao longo de um ano. Até agora, a polícia contabiliza 49 no ataque. Para efeito de comparação: em 2017, houve 35 homicídios em toda nação de 4,7 milhões habitantes. Neste século, o ano com mais assassinatos no país foi 2009, com 68 casos. Em comparação com o Brasil, tivemos mais de 63 mil mortes violentas em 2017 em um país com 209 milhões de habitantes.
A Nova Zelândia também não é um tradicional alvo do terrorismo internacional. O que não isenta o país de indivíduos que importam ideologias xenófobas, extremistas e racistas. São os chamados lobos solitários: alguém sem vínculos com organizações terroristas que passa a se identificar com as causas de determinado grupo. Busca, então, emular atentados do tipo em suas sociedades, até então ilhas de tranquilidade. São facilitados pela tecnologia (para o conhecimento de técnicas e manuais) e pelo acesso a armas. Na Nova Zelândia, a venda de armamentos é liberada para maiores de 16 anos e não há registro dos equipamentos.
Embora os Estados Unidos sejam o exemplo clássico dessa doença social, esse tipo de crime tem ocorrido em países outrora pacíficos. O modus operandi se assemelha ao do extremista de direita norueguês Anders Behring Breivik, que parece ter inspirado muitos terroristas racistas e supremacistas ao redor do mundo (uma sugestão para conhecer mais o caso é o livro de Åsne Seierstad, "Um de nós").
Breivik matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011 em Oslo e, depois, em um acampamento da Juventude Trabalhista na ilha de Utøya.
Em um documento de 73 páginas postado no Twitter antes do ataque, o atirador desta sexta-feira, Brenton Tarrant, afirma que "foi realmente inspirado pelo Cavaleiro Justiceiro Breivik", usando terminologia semelhante à do norueguês. A ideia de que a civilização europeia está ameaçada pela imigração — em especial muçulmana – e que supostamente seria legítimo que alguns recorram à violência para cessar a questão são o pano de fundo dessa tragédia.
Já houve outros atentados inspirados por Breivik e alguns abortados na Polônia, na República Tcheca, na França e nos Estados Unidos.
O fato novo no caso da Nova Zelândia: o show de horrores foi gravado e transmitido ao vivo por meio do Facebook. Mais do que um ato de exibicionismo mórbido do atirador pode ter sido uma estratégia arquitetada para inspirar outros atos terroristas.