Embora ainda se desconheçam as motivações que levaram dois rapazes a atirar contra crianças em um colégio de Suzano, São Paulo, nesta quarta-feira (13), o modus operandi de mais essa tragédia que se abate sobre esse sinistro 2019 lembra massacres a que estamos acostumados a ver nos Estados Unidos.
Em território americano, ataques desse tipo são uma epidemia: só em 2018, foram pelo menos 20. Em um deles, em fevereiro, um ex-estudante chegou a uma escola da Flórida perto do fim do turno de aulas. Ele usava máscara de gás, carregava um fuzil AR-15 e tinha granadas de fumaça. Antes de entrar no prédio, matou três pessoas. No interior, acionou o alarme de incêndio. Os alunos estranharam. Naquela manhã, já tinham passado por um treinamento. Na dúvida, saíram das salas mesmo assim. Deram de cara com o atirador. No total, 17 mortos.
Segundo a organização Everytown for Gun Safety, que compila informação sobre os casos relacionados com armas de fogo nos EUA, foram registrados desde 2013 cerca de 300 ataques em escolas americanas. Com pico nos anos 1990.
Um dos mais traumáticos ocorreu no Estado do Colorado, em abril de 1999. Os adolescentes Eric Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17, mataram 12 estudantes e um professor na tragédia que ficou conhecida como massacre de Columbine. Outras 27 pessoas ficaram feridas durante o ataque, que terminou com o suicídio de Harris e Klebold. A história deu origem ao documentário Tiros em Columbine, de Michael Moore, uma crítica à sociedade armada americana.
Desde então, as escolas multiplicaram os procedimentos de alerta e intensificaram os exercícios de treinamento. Em qualquer instituição, pública ou privada, de uma grande cidade como Nova York ou um vilarejo do interior do Kansas, as crianças sabem de cor o que precisam fazer quando o alarme de emergência dispara. E, a cada novo massacre, a discussão sem fim sobre o acesso facilitado a armas de fogo é reacesa. Nos EUA, a lei varia conforme o Estado.
Em um país acostumado a conviver com o medo do terrorismo externo, é um problema social interno que mata mais. Na maioria dos casos, os atiradores são estudantes das próprias instituições de ensino.
Passou a ser tão comum esse tipo de ataque nos EUA que, muitas vezes, os episódios com menos vítimas sequer aparecem nas capas dos jornais. E os americanos parecem, em algumas situações, resignados a cada matança. Que não aconteça o mesmo por aqui.