O primeiro encontro olho no olho entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, na terça-feira (19), marcará um passo decisivo rumo ao alinhamento automático com a Casa Branca prometido pelo presidente brasileiro desde os tempos da campanha.
Os bastidores da preparação para reunião já indicam o tom das conversas. Veja cinco pontos importantes no contexto da viagem.
1) Mal-estar no corpo diplomático
A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos ocorre em meio a um mal-estar no corpo diplomático brasileiro em razão da exoneração do diplomata Paulo Roberto de Almeida do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), na semana passada. O afastamento expôs a tensão existente entre os diplomatas antigos e novos, empoderados pelo chanceler Ernesto Araújo. A sensação em setores do Itamaraty é de quebra de hierarquia, de "coronel mandando em general", segundo as palavras de Almeida.
O "climão" interno não deve afetar diretamente o encontro entre os dois presidentes. Araújo, ex-diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos no Ministério das Relações Exteriores, circula com facilidade por Washington, sente-se em casa na embaixada e tem no diplomata Nestor Forster Júnior seu fiel escudeiro. Foi Forster quem apresentou Araújo ao escritor Olavo de Carvalho, que, por sua vez, o recomendou a Bolsonaro para assumir o Itamaraty.
2) Alinhamento automático
A reunião entre Trump e Bolsonaro, no Salão Oval da Casa Branca, será a concretização da promessa de alinhamento automático com os Estados Unidos feita por Bolsonaro desde a campanha. A aliança significa uma quebra no pragmatismo que regeu a diplomacia brasileira por décadas pós-ditadura. Nem durante o regime militar o governo brasileiro – com exceção da primeira fase, no governo Castelo Branco – apostou tanto em uma aproximação com os americanos.
3) Base de Alcântara
Como trunfo, Bolsonaro levará na mala a Washington o acordo fechado com os EUA sobre a base de Alcântara, depois de 20 anos de negociação. O novo AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas) permite o uso comercial do complexo, no Maranhão, para o lançamento de satélites, mísseis e foguetes. O tratado será assinado durante a visita.
Brasil e Estados Unidos já haviam tentado fechar o acordo em 2000, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o documento. Mas o texto foi rejeitado à época pelo Congresso, que entendeu que ele feria a soberania nacional.
4) Venezuela
Para Trump, só há um grande assunto a ser tratado com Bolsonaro: a crise na Venezuela. O governo americano sente que, se a pressão sobre Nicolás Maduro for reduzida nos próximos dois meses, a oposição perderá de vez a chance de chegar ao poder.
O governo brasileiro tem se mostrado até agora contrário a uma intervenção militar. Trump, que já disse que todas as alternativas estão sobre a mesa, quer ouvir os argumentos brasileiros para medir os próximos passos.
5) Cúpula conservadora
Antes da reunião no Salão Oval, Bolsonaro terá um jantar com a nata do conservadorismo americano. Será na residência do embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral.
Entre os presentes estarão Gerald Brant, um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro entre os investidores nos EUA, Mary Anastasia O' Grady, colunista e integrante do conselho editorial do jornal The Wall Street Journal, Roger Kimball, editor da revista literária conservadora New Critterion, e o ex-estrategista de Trump Steve Bannon. Sobre este último, vale o alerta. Bannon, de quem o núcleo ideológico do Planalto é admirador, foi um dos construtores da imagem de Trump candidato, mas caiu em descrédito após a eleição de 2016: foi demitido da Casa Branca e hoje é visto pelo círculo próximo do presidente como traidor.