Passou quase despercebida por aqui a angústia na Conferência de Segurança que discutiu, em Munique, os desafios da geopolítica atual.
Grosso modo: crises de Venezuela, Síria e Irã, o Brexit e o fracasso do acordo de armas nucleares de alcance intermediário (INF), que deu algum equilíbrio ao planeta, deixam o mundo mais perigoso. O clima é de fim de festa pós-Guerra Fria.
A chanceler alemã, Angela Merkel, matou a charada:
– A arquitetura que define o mundo como o conhecemos é um quebra-cabeças que se desmontou em pequenos pedaços.
Parecia que ela estava antevendo a ameaça feita ontem pelo presidente Vladimir Putin: a Rússia responderá a qualquer instalação de armas nucleares de alcance intermediário na Europa ao mirar não só países onde esses mísseis forem colocados, mas também os Estados Unidos.
No pronunciamento anual ao Parlamento – versão russa do discurso sobre o Estado da União americano –, Putin disse que seu país não está buscando um confronto e não dará o primeiro passo para instalar mísseis em resposta à retirada dos EUA do acordo nuclear. Mas garantiu que a reação a qualquer posicionamento de mísseis próximo a sua área de influência será firme e que os americanos devem calcular riscos antes de tomarem tais medidas.
– A Rússia não pretende ser a primeira a implantar mísseis na Europa. Mas, se (mísseis americanos) forem implantados no continente europeu, isso agravará a situação e criará ameaças para a Rússia – declarou o presidente.
Os EUA suspenderam sua participação no Intermediate-Range Nuclear Forces (nome oficial do INF), acusando a Rússia de violar as disposições do documento assinado em 1987. Em resposta, o Kremlin fez o mesmo. O acordo prevê a eliminação de mísseis nucleares ou convencionais com alcance de 500 a 5,5 mil quilômetros. O tratado deve se tornar obsoleto em agosto.