As filas do SUS, exibidas pelo repórter Giovani Grizotti, do GDI, da RBS, são o símbolo mais terrível da falência dos serviços de saúde no Brasil.
Não à toa, a cada eleição, essa chaga social é alvo de promessas dos candidatos que vendem esperança - e que, quando eleitos, não entregam soluções.
Não se trata de um problema apenas de um ente da federação. É de todos. O SUS é federal, mas a gestão da fila é dos Estados e em alguns casos dos municípios, como Porto Alegre.
É também um problema de décadas, como mostra a série de reportagens do GDI. Pessoas que esperam anos para o atendimento, e, quando entram para o sistema, não têm sua situação resolvida. Em algumas situações, cirurgias são remarcadas. E lá se vão mais alguns anos.
O duradouro calvário de quem depende do SUS também releva que esse não é um problema da direita, da esquerda ou do centro. Houve tempo para todos exercerem o poder - sem solução.
O que acontece?
Ou a pessoa morre; ou precisa entrar na Justiça; ou recebe o atendimento depois de muito tempo. Aí, os pacientes já enfrentam outros problemas de saúde, que acabam não só agravando seus casos, com o aparecimento de outras doenças.
Além do aspecto pessoal, o drama individual, a demora acaba onerando o poder público, uma vez que os pacientes ficam mais tempo internados e precisam de outros atendimentos.
É um ciclo vicioso.
O governo do Estado diz que investe os 12% mínimos da receita corrente líquida em saúde, obedecendo ao que está previsto na Constituição. Mas essa questão não é apenas sobre dinheiro. É sobre gestão. É sobre como esse recurso está sendo administrado.
Assim como o problema da enchente no Rio Grande do Sul, é preciso atuar em duas velocidades: uma delas a médio e longo prazos; a outra, urgentemente.
A primeira ação exige transparência. O governo do Estado não torna públicas as estatísticas sobre a fila do SUS. Ora, a primeira ação para se resolver um problema é conhecer o seu tamanho. Felizmente, existem o Giovani Grizotti, o GDI e o jornalismo profissional: sabe-se, agora, que no RS são 670 mil pedidos.
Segundo, é necessária a contratação de mais médicos especialistas, mais gente. Além disso, qualificação da atenção primária, a implementação de consultas à distância (vamos usar a tecnologia em casos de pacientes que precisa de um atendimento especializado, de baixa complexidade, e em um município onde não há aquela especialização?)
Ainda: unificar as filas. Pelo a reportagem mostrou, há várias.
O que não dá é para ficarmos no plano das ideias, porque, enquanto isso, pessoas estão morrendo em uma fila que deveria ser de esperança. Mas que, infelizmente, virou de desespero.