A coluna preparou um resumão para entender um pouco a geopolítica de França e Croácia, cujas seleções se enfrentam neste domingo na final da Copa da Rússia.
A França em números
A França é a terceira economia da Europa (atrás de Alemanha e Reino Unido). Depois de ter desacelerado e de ter crescido fortemente, 2,2%, em 2017, o PIB do país deve recuperar fôlego na segunda metade deste ano. A redução das contribuições sociais e dos impostos da habitação, aumentos salariais e um crescimento do emprego deverão ter um impacto positivo no poder de compra das famílias. A meta do governo é diminuir a elevada taxa de desemprego, que desde 2010 se encontra pouco abaixo dos 10% _ mais que o dobro dos níveis na Alemanha e no Reino Unido e acima da média europeia, que é de 7,8%. O país disputa com a Alemanha a liderança da União Europeia. A França é um dos países ocidentais que mais têm sido alvo de atentados ligados ao islamismo radical nos últimos tempos _ entre eles contra o jornal Charlie Hebdo (12 mortos), contra a casa de espetáculos Bataclan, restaurantes e no Stade de France (130 mortos), em 2015, e em Nice (85 mortos), que neste sábado, completa dois anos. Ocupa a 21ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A Croácia em números
A Croácia é um país bastante jovem e recém-integrado à União Europeia. Até janeiro de 1992, fazia parte oficialmente da Iugoslávia, estado comunista que reunia também nações como a Sérvia, a Eslovênia e a Bósnia. Em 2013, ingressou na União Europeia. Sua economia saiu em 2015 de uma recessão que durou seis anos, nos quais acumulou uma contração de 12%. A dívida pública representa 80% do Produto Interno Bruto (PIB). O desemprego ainda é um dos principais desafios _ ronda os 16%. Ocupa a posição 45 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para efeitos de comparação, o Brasil está em 79º lugar.
Problema atuais
França e a imigração
A inclusão de imigrantes em sua sociedade é um dos graves problemas atuais da França. No ano passado, em plena crise migratória na Europa, o país registrou mais de 100 mil pedidos de asilo _ um número recorde. A França ter a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada em 6 milhões de pessoas, o que corresponde a quase 10% de sua população. Essa população imigrante ou nascida na França de origem estrangeira sofre há décadas problemas de integração e é, em boa parte, desfavorecida socialmente. Eles residem em áreas que concentram uma população de baixa renda, o que cria guetos e favorece o comunitarismo, acirrando o sentimento de exclusão social. Para frear o processo, está em pauta um controverso projeto de lei que busca endurecer a política migratória e de asilo que prevê reduzir a um máximo de seis meses o processo de pedido de asilo e facilitar a recondução à fronteira dos imigrantes que não tiverem obtido este amparo.
Croácia e o nacionalismo
O país vive uma herança de forte xenofobia e nacionalismo exacerbado que, em alguns momentos, descambam para expressões neonazistas. Jogadores e comissão técnica apareceram em vídeos dizendo "Slava Ukraini" (Glória à Ucrânia). A frase, usada por líderes ucranianos que lutam pela retomada da região da Crimeia, anexada pela Rússia, é uma provocação aos anfitriões da Copa. A expressão também foi uma saudação do Exército Insurgente Ucraniano (UPA) e da Organização Ucraniana Nacionalista (OUN), alinhados aos nazistas do Terceiro Reich. Não é incomum no Leste Europeu manifestações ultranacionalistas e xenofóbicas, que sonham com uma Europa de pureza racial. Na vitória sobre a Argentina, ouviu-se referências à música "Bojna Cavloglave", da banda Thompson, conhecida como hino nacionalista durante os anos de guerra contra a Sérvia.
Passado de guerras
França, campo de batalhas da Europa
A França foi campo de batalha de grandes guerras na história do Ocidente. Venceu disputas importantes, como a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), contra o Reino Unido, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que envolveu quase toda a Europa central. Com Napoleão Bonaparte, ocupou grande parte do continente _ inclusive levando a família real portuguesa a fugir para o Brasil em 1808. No conflito franco-prussiano (1870-1871), a Alemanha tomou regiões francesas como Alsácia e Lorena. Em 1914, a França entrou na I Guerra Mundial ao lado de Rússia e Grã-Bretanha, formando a Tríplice Entente contra os alemães e aliados. Na II Guerra (1939-1945), as tropas de Adolf Hitler tomaram Paris e ocuparam boa parte do território francês, só libertado a partir da operação Overlord _ iniciada com o desembarque na Normandia (1944). Nos últimos anos, a França tem participado, ao lado dos EUA, de operações militares em países como a Síria e o Iraque contra o Estado Islâmico, e no Mali, que também visam radicais islâmicos.
Croácia e os conflitos nos Bálcãs
O país foi palco das atrocidades das guerras dos Bálcãs. Na II Guerra, os nazistas ocuparam a Iugoslávia em 1941, e cederam o controle croata ao grupo fascista local, o Ustase. Seguiu-se um massacre de 300 mil a 600 mil sérvios. Em 1945, o país foi reunificado sob a bandeira comunista do marechal Josip "Tito" Broz. Os croatas sempre se ressentiram com o domínio sérvio. Apesar de eslavos, são católicos e adotam o alfabeto latino, o que os torna bastante próximos do Ocidente _ em oposição também aos sérvios, que são mais próximos da Rússia.
A independência veio às custas do sangue croata. Inicialmente, decidiram pela separação em um plebiscito em junho de 1991. A decisão eclodiu na invasão do exército iugoslavo, comandado por Slobodan Milosevic, e em uma guerra civil que durou de 1991 a 1995. O conflito só acabou em dezembro daquele ano, com a intervenção da ONU.
Presidentes moderninhos
Macron e a "esquerda liberal"
Aos 40 anos, presidente mais jovem da história da França, Emmanuel Macron é o queridinho da Europa, muitas vezes comparado a Barack Obama. Sua campanha, em 2017, se assemelhava muito com a do democrata americano: seu partido En Marche! era a grande surpresa do pleito. Uma de suas máximas era dizer que o partido não era nem de esquerda nem de direita. A imagem política de Macron gira em torno da ideia de que ele é um "outsider", alheio à classe tradicional política. Com apenas quatro meses no poder, ele assinou cinco decretos que implementam a reforma trabalhista, a fim de flexibilizar as leis de trabalho. Houve protestos e sua popularidade caiu: de 66% quando assumiu para 45%. Tem sido um presidente reformador e ao mesmo tempo popular, o que não significa que não seja contestado. Para muitos, seu estilo de governar passa longe da imagem de moderninho. Ele vem sendo criticado por sua postura distante da realidade do francês médio, o que leva a oposição a muitas vezes a compará-lo ao imperador Napoleão Bonaparte. Os looks de Macron também permitem comparação com Obama: cheio de estilo, costuma usar gravatas slim, colarinho italiano e ternos justos, que deixam o punho das camisas à mostra.
Kolinda e o populismo
Kolinda Grabar-Kitarovic, 50 anos, presidente da Croácia, ficou conhecida na Copa pelo estilo despojado durante os jogos. Primeira mulher a comandar a nação, também chamou atenção o fato de ela ter descontado os dias de folga de seu salário, viajado em voo comercial e pago ingressos do próprio bolso. Eleita em 2015 com 50,54% dos votos, integra uma coalizão de oito partidos liderada pelo maior, a União Democrática Croata (HDZ). Esta legenda, quando no poder entre 2003 e 2009, esteve envolvida nos maiores escândalos de corrupção do país. Em 2013, em uma sentença judicial, a legenda foi qualificada de "organização criminosa" e seu ex-primeiro-ministro Ivo Sanader foi preso.
Kolinda representa uma nova era do partido e da política croata. Antes de se tornar presidente, seguia carreira diplomática como embaixadora da Croácia em Washington entre 2008 e 2011, ministra para Integração Europeia e ministra das Relações Exteriores e exerceu alto cargo na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Considerada da ala moderada de seu partido conservador, é católica e contraditória em questões sociais. Ela se manifesta a favor do aborto, mas é contra o casamento gay _ embora, durante sua campanha, em 2014, tenha dito que apoiaria caso um dos filhos se assumisse como homossexual. Diferentemente da França, onde o sistema de governo é semipresidencialista (o primeiro-ministro é Edouard Philippe), na Croácia vigora o parlamentarismo _ logo, Kolinda, a presidente tem poderes limitados. Ela é comandante supremo das forças armadas e administra junto ao governo a política exterior. O cargo de primeiro-ministro é ocupado por Andrej Plenkovic.
Turismo
Sempre teremos Paris
Com suas pontes, museus e monumentos conhecidos no mundo inteiro, Paris é uma das cidades mais lindas do mundo. Depois de forte queda no turismo, por causa dos atentados, a capital francesa voltou a ser um dos principais destinos do planeta. O crescimento do número de visitantes do Museu do Louvre, este ano, é um indicativo. Em 2017, o museu mais visitado do mundo recebeu 8,1 milhões de visitantes, 10% a mais do que no ano anterior. A Torre Eiffel provavelmente é o ponto turístico mais conhecido do globo e está não apenas em cartões postais, mas também em diversos filmes e no imaginário de todos nós.
Croácia, o novo point
Passadas as guerras, o país tem sido descoberto pelos viajantes. Zagreb, a capital, tem uma topografia diferenciada: na parte alta, está a maioria dos prédios históricos, e, na baixa, os bairros modernos. Um funicular liga as duas regiões. No Parque Nacional de Plitvice, estão 16 lagos naturais e uma série de cachoeiras. Em Split, na costa do Mar Adriático, há preciosidades arquitetônicas remanescentes do império romano, como o Palácio-Fortaleza do Imperador Diocleciano. Trogir foi fundada pelos gregos em 380 a.C. Dubrovnik, patrimônio da Humanidade pela Unesco, uma cidade murada encanta os visitantes.
Gastronomia
O país dos queijos, vinhos e champanha
A variedade de queijos, vinhos, carnes e doces é a marca da França, em termos de gastronomia. Com o croissant, uma massa folheada que desmancha na boca, crepes deliciosos e pratos famosos, como foie gras e escargot, a França também é o paraíso dos enófilos, a quem ela oferece vinhos de qualidade excepcional. Ah, é a sua oportunidade de comprar champanhe a um preço justo. Aproveite!
A nação multicultural
O entroncamento de civilizações em seu território também é perceptível na comida, particular de acordo com cada região. No Norte, sobressai-se a influência austro-húngara, perceptível principalmente pelo uso do repolho. O sarma — prato que lembra um charuto recheado com uma mistura de arroz, carnes bovina e suína — é cozido com chucrute e com linguiça, costela e toucinho -todos defumados. Na fronteira com a Bósnia, predomina a influência turca. Entre os pratos tradicionais, há o bosanski lonac, ensopado no qual são sobrepostas camadas de legumes e carnes, e o burek, uma torta de semolina com mel.