Após a divulgação dos documentos da CIA que mostraram que o governo Ernesto Geisel pouco teve de “ditabranda”, o Itamaraty enviou ao Departamento de Estado americano pedido de liberação de todos os arquivos em relação ao regime militar brasileiro. A se confirmar a tendência, não vai levar.
Diferentes leis nos EUA garantem acesso público a documentos sigilosos - alguns com 25 anos, outros 50 anos. De tempos em tempos, os EUA desclassificam os arquivos e os divulgam em grandes levas - uma das últimas ocorreu durante o governo Barack Obama. Com base nesses relatórios, GaúchaZH revelou, no ano passado, que a CIA via sinais de novo golpe nas eleições de 1989 e como o então candidato Fernando Collor de Mello era visto, pelos olhos americanos, como queridinho da América.
Muitos destes documentos trazem apagados os nomes das fontes, para garantir o sigilo de informantes ou espiões. Também só são divulgados textos depois de uma minuciosa análise por parte dos especialistas de CIA e FBI para garantir que não possam constranger as atuais boas relações dos americanos com outros países. Não é difícil imaginar o estrago que causaria saber, por exemplo, o quanto Saddam Hussein e Osama bin Laden, fizeram pela CIA nos anos 1980. Afinal, os mocinhos de hoje, são os inimigos de amanhã.
Dada a influência americana na América Latina em geral e no Cone Sul em particular entre os anos 1960 e 1980, seria muito provável um clima de constrangimento diante da revelação de alguns conteúdos. Assim, fica mais fácil usar o termo que autoridades costumam se valer para rasurar longos trechos dos textos ou simplesmente negar acesso ao público: segurança nacional.
Além de apenas exigir que os EUA revelem o que há sobre o período da ditadura em seus arquivos, o governo brasileiro deveria se preocupar em ele próprio tornar transparente os próprios arquivos do período. Para ficarmos em um exemplo local, muitos dos documentos do antigo Terceiro Exército, com sede em Porto Alegre, continuam ocultos. É lamentável que tenhamos de conhecer parte importante da História do Brasil somente a partir do que escreveram os americanos.