Nunca tinha vivido esta emoção em 47 anos de atuação como narrador de futebol. A tarde deste domingo (17), quando recordamos Grêmio x Penãrol de 1983, ficará marcada na minha vida profissional, assim como o próximo dia 24, quando teremos Inter x São Paulo. Nossos diretores do esporte da RBS reservaram quatro domingos seguidos, na ausência de futebol pela pandemia, para reviver as primeiras e inesquecíveis façanhas dos nossos times. A final da Libertadores de 1983 foi o jogo de um então tetracampeão da América contra um clube que recém começava a dar pulos em direção a sua maioridade. E deu Grêmio, pela genialidade de Renato, pelas mãos talentosas de Valdir Espinosa, pela grande gestão de Fábio Koff e Alberto Galia. Um grande e inesquecível Grêmio.
Recebi muitos recados de amigos gremistas, e o que mais me impressionou foi a mensagem enviada pelo engenheiro civil Flávio Heller. Ele passeava pela serra gaúcha e diz que viu dezenas de torcedores com camisa do Grêmio. Esta é a medida do tamanho da emoção do torcedor, da saudade que ele tem do seu time, da Arena, dos jogos, dos títulos. O futebol é pura emoção. Seja ele jogado nos dias de hoje ou as grandes recordações. Confesso que, mesmo calejado, fiquei emocionado com esta possibilidade de narrar, pela Gaúcha e Rede Gaúcha Sat, um jogo que foi disputado há 37 anos. O futebol, e só o futebol, é capaz de nos dar tantas emoções. No próximo domingo, vamos reviver a primeira Libertadores conquistada pelo Inter. Foi sobre o grande São Paulo, na época campeão do mundo. E haja coração.
Diferenças
O gramado do Olímpico estava péssimo na decisão de 1983. Os lances ríspidos se somaram ao longo do jogo e o juiz distribuía cartões amarelos. Renato deu uma voadora em Venâncio Ramos e só levou cartão amarelo. O ponteiro gremista apanhou o jogo todo, pois, como se sabe, time uruguaio não manda flores para o adversário. Nos dias de hoje, teríamos muitas expulsões. Só Renato e Ramos foram expulsos no final da partida porque trocaram pontapés. Muitos outros jogadores, dos dois lados, poderiam ter levado vermelho. O futebol mudou muito, está mais civilizado, dando mais chances a quem tem técnica para jogar.
Renato
Cada lance como jogador era um problema para o adversário. Sua forma de jogar era sempre tentar a jogada individual, tentar o lance agudo, buscar o drible e, logo depois, o gol. Os uruguaios sabiam disso e fizeram marcação por vezes dupla e até tripla. Renato foi um atacante com tamanho de zagueiro. Nunca pipocou, mesmo tendo levado milhares de pontapés ao longo de sua carreira como jogador. Foi ele quem fez o cruzamento maluco do lado direito para Cesar marcar o gol da vitória. E foi ele quem marcou os dois gols contra o Hamburgo quando o Tricolor ganhou o mundo. Como treinador, tirou o clube de 15 anos de obscurantismo e ganhou seis títulos. Ninguém é mais importante na história do Grêmio do que ele.