Após quase uma semana de clima tenso, com relatos de bate-bocas e alguns empurrões, a Guarda Municipal passou a expulsar os ciclistas que vinham usando a recém-inaugurada pista de skate na Orla do Guaíba.
Em resumo, os skatistas dizem que o local foi projetado exclusivamente para eles. Já quem pratica o BMX freestyle – modalidade do ciclismo que utiliza a pista para a realização de manobras – argumenta que o espaço público deveria ser de todos.
– Não é nem democrático impedir o pessoal do roller, do patinete ou da bike de usufruir daquela área. Dizem que é uma pista de skate, mas, se pegarmos uma quadra de futebol, por exemplo, ela também é usada para jogar handebol e vários outros esportes – diz Fabiano Garcia, diretor-técnico da Federação Gaúcha de Ciclismo, lembrando que o BMX freestyle é praticado em pistas compartilhadas com skatistas em todo o mundo.
A coluna entrou em contato com o secretário municipal de Esporte e Lazer, Kiko Pereira, que informou estar "buscando um acordo" com os dois grupos "por meio do diálogo". Mas, algumas horas depois, o próprio prefeito Sebastião Melo enviou à coluna um parecer técnico: no documento, a empresa Spot Skateparks, que projetou a pista da Orla, aponta uma série de danos provocados no local já nos primeiros dias de uso.
"Em mais de 15 anos construindo skateparks, nunca identificamos situação semelhante no caso das áreas destinadas exclusivamente à prática de skate", afirma a Spot no parecer. Segundo a empresa, os estragos encontrados nas bordas de rampas e outros equipamentos "possivelmente são decorrentes" do contato com "pedaleiras e pedais das bicicletas".
– Estou conversando com os ciclistas: talvez a gente possa garantir a pista do Marinha para as bicicletas ou encontrar outra saída – diz o prefeito Melo, para depois concluir: – O que eu não posso é, para agradar a um grupo, tomar a decisão política de liberar as bicicletas enquanto um laudo técnico me diz que o espaço é só para skate.
Mas Fabiano Garcia, da Federação Gaúcha de Ciclismo, entende que o parecer da empresa é inconclusivo: não há no documento uma afirmação peremptória de que o problema sejam as bikes – e o laudo, na avaliação de Fabiano, nem sequer explica tecnicamente por que as pedaleiras e os pedais seriam tão agressivos à pista.
– O truck de um skate (eixo de metal onde as rodas são fixadas) é muito mais abrasivo do que essas peças da bicicleta. E as rodas do skate são mais duras do que os pneus– garante ele, dizendo que providenciará um novo laudo, assinado por engenheiro, para apresentar à prefeitura.