Quando o Fabrício Carpinejar foi anunciado patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, no início da semana, liguei para dar os parabéns e, lá pelas tantas, começamos a falar sobre o possível retorno do horário de verão. A nostalgia chegou a afinar a voz dele.
– Era uma sensação de fim de semana durante a semana – recordou o Carpinejar.
Achei a frase tão precisa. Com uma hora a mais de sol, de fato, era como se deixássemos de concentrar todas as expectativas no sábado e no domingo. Pairava no ar uma agradável impressão de que "vai dar tempo".
O convívio com os amigos, o happy hour, a pedalada na Orla, a pracinha com as crianças, tudo isso se viabilizava com uma frequência impensável em outra época do ano. Até porque o medo da violência, com o início da noite, chegava tarde demais para nos preocupar.
– As pessoas mudavam de humor. Pareciam determinadas a ocupar o dia, a dar um sentido para ele – prosseguiu o patrono da Feira.
Ou seja, o horário de verão fazia parte de uma cultura, de um estilo de vida que saboreávamos por quatro ou cinco meses desde 1985. Só que há dois anos, sem qualquer diálogo, sem debate, sem satisfação alguma, arrancaram isso da gente: bastou uma canetada para a escuridão nos engolir de novo.
Mas pode ser que agora, devido à pressão de diferentes setores da economia, o presidente Jair Bolsonaro dê o braço a torcer e decrete a volta dos bons tempos – segundo a colunista Giane Guerra, de GZH, uma decisão pode sair nos próximos dias. E, cá entre nós, dá para imaginar cidade mais beneficiada pelo horário de verão do que a Porto Alegre de hoje? Porque, vejamos:
Mais um trecho da Orla será inaugurado agora, em outubro, com bares, quadras esportivas, academias ao ar livre e a maior pista de skate da América Latina. A reforma do calçadão de Ipanema vai ficar pronta até o fim do ano. O Cais Embarcadero já é um sucesso. E o restaurante panorâmico, que flutua sobre o Guaíba, você já foi lá? Outra beleza é o novo café da Casa de Cultura, que reabre as portas em duas semanas, sem falar na volta presencial da Feira do Livro!
Como seria bom ter tempo para tudo isso, como se o fim de semana desse o ar da graça de segunda a sexta. O horário de verão, justamente quando a pandemia se despede, pode oferecer ao porto-alegrense um reencontro esfuziante com a cidade – e também nos brindar com um novo humor, como disse o Carpinejar, porque os dias mais longos haverão de ser mais leves.