Passados seis meses de governo, ainda sem uma proposta concreta para a crise do transporte coletivo, Sebastião Melo flertou com o populismo na entrevista que concedeu nesta terça-feira (15) ao Gaúcha Atualidade. Repetiu que não aceitará a passagem de ônibus em R$ 5,20 – valor que a própria EPTC havia endossado – e passou boa parte da conversa terceirizando responsabilidades.
Disse que os empresários são resistentes a qualquer mudança, falou que a Câmara de Vereadores precisa assumir protagonismo e, mais uma vez, criticou a EPTC como se fosse um órgão vinculado à oposição. O tom era de um defensor do povo lutando sozinho contra uma conjuntura opressora e perversa.
– A crise vai se estabelecer e, se tiver que parar (a operação do serviço), que pare. Eu não vou botar dinheiro no sistema todo mês – bradou o prefeito.
A questão é que, se os ônibus realmente pararem, o culpado vai ser um só: o governo Melo. Não faz o menor sentido sugerir que a revisão de um sistema falido depende da boa vontade dos empresários (embora ela seja bem-vinda) ou de alguma iniciativa que parta dos vereadores. Esse é o trabalho do prefeito eleito e de sua equipe – que, até agora, nesse assunto, mais bateram cabeça do que apresentaram soluções.
Qualquer pessoa em sã consciência concorda que uma passagem de R$ 5,20 é absurda. Mas é o valor que o contrato prevê. Se a intenção é manter esse valor mais baixo (em R$ 4,90, por exemplo), a questão que se impõe é: como cobrir o restante? O mais óbvio seria o município repassar uma compensação às empresas de ônibus.
– Não tenho disposição em colocar mais dinheiro – afirmou Melo ontem.
Então que aponte a alternativa para poder parar de colocar dinheiro. Esse é o ponto. O prefeito sabe que a única saída é encontrar uma nova fonte de receita para sustentar o sistema de transporte coletivo. Não quer taxar os aplicativos? Tudo bem. Não quer a sugestão da EPTC de tributar todas as empresas da cidade? Tudo bem também.
Mas alguma coisa precisa ser proposta. Se essa nova fonte de receita não vier, as empresas entrarão na Justiça e, muito provavelmente, vão arrancar o dinheiro do município mesmo assim. Porque um contrato está sendo descumprido. E desde a campanha eleitoral Melo conhece bem esse problema – não dá para dizer agora que a culpa é dos outros.