Não dá mais para esperar, o prazo está acabando. O prefeito Sebastião Melo precisa apresentar logo uma alternativa estrutural para o sistema de transporte coletivo de Porto Alegre.
Não me refiro às medidas atenuantes que o governo encaminhará nos próximos dias à Câmara de Vereadores. Elas são importantes, claro – vão acabar com gratuidades abusivas, vão propor novas funções para os cobradores de ônibus –, tudo isso é bom, é necessário, é um passo adiante, mas não resolve o problema.
Melo sabe que, para resolver o problema, só reformulando o modelo atual. Só encontrando uma nova forma de sustentar o arruinado sistema de transporte público. E não há mais tempo, a água já bate no pescoço. Nesta semana, o Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu) deve aprovar o aumento da passagem para R$ 5,20. Esse é o chamado valor técnico – ou seja, baseado no cálculo que o contrato prevê.
Só que o prefeito promete manter a tarifa abaixo de R$ 5. Tudo bem, concordo que é uma indecência esse valor de R$ 5,20, mas há um ponto de inflexão aqui. O colunista Jocimar Farina já fez esse alerta em GZH: Melo vai acabar sendo obrigado a repassar mais dinheiro público às empresas. Sem contar aqueles R$ 16 milhões que, em março, num acordo mediado pela Justiça, ele já havia se comprometido a transferir.
E agora? O prefeito costuma dizer que não vai fazer isso. Mas, para não fazer isso, ou os nossos ônibus ganham 2 milhões de passageiros imediatamente, ou Melo faz o que precisa ser feito: encontra uma nova fonte de renda para financiar o sistema. Taxar os aplicativos de transporte, por exemplo, já foi descartado. E a proposta do secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, encontra forte oposição dentro do governo – em especial do vice-prefeito, Ricardo Gomes.
Záchia sugere que todas as empresas da cidade deixem de pagar vale-transporte aos seus funcionários e, em troca, repassem um valor mensal à prefeitura. Mas, enquanto Záchia garante que isso derrubaria drasticamente o preço da passagem, Ricardo Gomes acredita que o empresariado sairia perdendo.
Não há como ter certeza sobre nada disso, porque, até agora, não houve uma apresentação concreta desse projeto, com todos os cálculos e todas as dúvidas dirimidas. Mas Melo pediu à Secretaria de Desenvolvimento Econômico um estudo mais detalhado. Que fique pronto logo, porque não dá mais para perder tempo.