Vocês sabem: se eu disser que esse processo de impeachment é uma patacoada e que Marchezan deveria, sim, completar seu mandato, dirão que tenho segundas intenções. Que estou defendendo interesses da RBS. Que ganho algum dinheiro com isso. Que preciso garantir meu emprego.
São argumentos típicos de quem, na verdade, não tem argumento. A pessoa deixa de discutir a situação em si – que é o que interessa – para discutir a minha pessoa. Como se eu modulasse meu discurso conforme a conveniência. Ora, Freud dizia que, quando Pedro fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo. Ou seja, é óbvio: pessoas que emitem opiniões baseadas exclusivamente em seus interesses particulares acreditam, claro, que os outros farão o mesmo. Porque é o que elas fazem.
Eu, não. Eu posso inclusive estar errado, evidente que posso, mas prefiro errar honestamente. E minha honesta opinião, errada ou não, é que esse processo de impeachment é uma patacoada e que o prefeito deveria, sim, completar seu mandato. Tem sido constrangedor ver vereadores inventando penduricalhos para sustentar uma denúncia que, claramente, não para em pé.
Como se sabe, Marchezan é acusado de usar recursos do Fundo Municipal de Saúde para despesas com publicidade. Só que a própria Câmara aprovou, no orçamento de 2020, esses gastos em propaganda – e as peças publicitárias foram importantes para orientar a população sobre o coronavírus. O real motivo para os vereadores quererem escorraçar Marchezan é outro. Sim, é verdade que, além de expulsá-lo da prefeitura, querem tirá-lo da eleição. Mas a razão primária para fazerem tudo isso, não tenho dúvida, é ressentimento. Mágoa. Vingança.
Converso com a maioria dos vereadores e sei que detestam o prefeito. Têm suas razões para isso: foram tratados com desprezo e indelicadeza ao longo desses quatro anos. Alguns estão de tal forma tomados pelo ódio que colocam o rancor à frente da cidade. E obrigam a prefeitura, no meio de uma pandemia, a dividir suas forças entre o combate ao vírus e um processo de impeachment leviano, capenga e inoportuno.
Marchezan tem, sim, de pagar pela péssima relação que construiu com a Câmara. Como? Talvez não devesse ser reeleito. Os vereadores e seus partidos, assim, teriam uma vitória digna – e Porto Alegre, uma eleição mais decente.