Como colunista de Porto Alegre, a primeira coisa que fiz, no retorno das férias, foi telefonar para o presidente da Câmara de Vereadores – afinal, um processo de impeachment corre por lá. Reginaldo Pujol (DEM), que sempre foi aliado de Marchezan, mudou de tom. Suas críticas ao prefeito agora são duras. E ilustram bem a quase absoluta ausência de apoio do governo no Legislativo.
– O prefeito xinga tudo que é vereador, faz ameaças, diz que vai mostrar os problemas de cada um. Como é que alguém vai votar a favor dele, se ele fica falando que vai encurralar todo mundo? – questiona Pujol.
O presidente da Câmara, embora não tenha dito com todas as letras, provavelmente se referia a uma entrevista de Marchezan à TV Pampa, na semana passada. Na ocasião, o prefeito deu declarações como esta:
– Esses vereadores, que estão querendo colar em mim essa (pecha) de corrupção, ou de que usei dinheiro da saúde de forma indevida, puxa, esses eu vou fazer questão, até o dia em que vocês tentarem me derrubar, até o dia da votação do impeachment, de mostrar quem é cada um de vocês.
É uma guerra difícil de vencer. Porque 31 vereadores votaram pela abertura do processo de impeachment. E apenas quatro foram contra. Pujol, por ser o presidente, não votou. O que chamou atenção foi justamente a dissolução da base aliada – que, embora nunca tenha sido muito sólida, já havia ajudado a derrubar outros cinco pedidos de impeachment contra Marchezan. Um deles, inclusive, após o rompimento com o PP.
Por que, desta vez, a base se esfarelou?
Marchezan colhe os frutos da péssima relação com a Câmara. Haveria muitas formas justas de pagar por isso. Nenhuma delas é um impeachment.
Um dos motivos é o congelamento das emendas impositivas. Marchezan havia decidido, em abril, não cumprir as indicações dos vereadores ao orçamento municipal – cada parlamentar teria direito a cerca de R$ 1 milhão, conforme uma lei que eles próprios aprovaram no ano passado. O prefeito sempre foi contra esse mecanismo.
Depois que o processo de impeachment foi aberto, aliados esperavam que Marchezan recuasse. O prefeito aceitaria as emendas e, em troca, não seria afastado. Mas não foi o que ocorreu: Marchezan, em retaliação, resolveu exonerar dezenas de CCs que haviam sido indicados por vereadores da base.
O clima piorou e, agora, o impeachment é uma probabilidade que até o governo já reconhece. Em resumo, o prefeito colhe os frutos apodrecidos de uma péssima relação com a Câmara. Esse sempre foi o calcanhar de aquiles de Marchezan. Haveria muitas formas justas de ele pagar por isso, mas nenhuma delas é um impeachment.