Não havia justificativa racional para abrir uma exceção para o futebol. Todas as atividades não essenciais, em Porto Alegre, estão impedidas de funcionar. Todas. E foram fechadas pelas mesmas autoridades que, agora, debatiam a liberação de um Gre-Nal na capital gaúcha. Se o jogo saísse – felizmente não vai sair –, que recado a prefeitura passaria à população?
Não tenho dúvida: quem tem mais dinheiro, mais tamanho, mais poder, às vezes consegue um privileginho. Porque o futebol seria a única atividade não essencial autorizada na cidade. É verdade que os protocolos preparados pelos clubes e pela Federação Gaúcha de Futebol eram exemplares. Também é verdade que o risco da atividade, em si, não era alto – envolveria atletas, pessoas jovens e saudáveis, monitoradas o tempo todo.
Mas e daí? Existe uma série de outras atividades de baixo risco proibidas na Capital. Por que nenhuma delas pode ser exceção? Ora, porque, se a prefeitura autoriza uma, sofrerá pressão para autorizar outra – e, com setores abrindo as portas, a mensagem é a seguinte: estamos voltando ao normal.
Não estamos. Pelo contrário, nunca estivemos tão reféns da anormalidade. Porto Alegre registra uma disparada inédita de internações em leitos de UTI – se o ritmo seguir assim, a previsão é de que, dentro de 20 dias, todas as 383 vagas para pacientes com coronavírus estejam esgotadas. O Rio Grande do Sul bate recorde de mortes toda semana.
Se existe algo perigoso neste momento é iludir a população com uma falsa impressão de normalidade. O Gre-Nal contribuiria para esse delírio. Daqui a um mês, não muito mais do que isso, quando as atividades não essenciais forem novamente liberadas, aí é razoável que o futebol também retorne. Mas, agora, seria um gol contra.