A retomada do Gauchão é um dos assuntos mais comentados do Rio Grande do Sul. O apoio e as críticas ao retorno do futebol lotam as redes sociais e os canais de interatividade dos veículos de comunicação. Entre os jornalistas do Grupo RBS, há divisão de opinião sobre a volta do campeonato. Pedimos a oito colunistas que apresentassem suas visões a respeito do tema. Nesta sexta-feira, a prefeitura de Porto Alegre vetou a realização do Gre-Nal no Beira-Rio, e a Federação Gaucha de Futebol (FGF) anunciou a mudança do clássico para o Estádio Centenário, em Caxias do Sul.
Sim. Faz quatro meses que os clubes pararam de jogar. Sei que estamos no pior momento desta pandemia, mas sei também que os protocolos da Federação e dos clubes são muito cuidadosos. O risco de ter aglomerações para assistir aos jogos existe, não por culpa do futebol e sim das pessoas que não sabem se portar diante da crise sanitária.
Temos de conviver com o vírus. Ele está aí e temos que retomar as atividades. Com muito cuidado. Não podemos parar para sempre. O futebol é atividade econômica, deve ajudar psicologicamente as pessoas que estão ansiosas dentro de suas casas e com medo de serem contaminadas. É que não se faça reuniões de amigos para assistir aos jogos.
Não. Para mim, qualquer campeonato deve voltar apenas quando o local — país no caso da Europa e estado no caso brasileiro — apresentar curva decrescente dos casos e óbitos por covid-19. O momento gaúcho é delicado e o futebol, por mais que se esteja seguro — e está — dentro dos estádios, pode ser comprometido pela falta de postura da população que passará a se aglomerar para acompanhar as partidas.
O Gauchão voltará agora. Isso é fato consumado. Mas o debate que ainda segue dentro da validade é se, realmente, o campeonato está voltando em um momento adequado
LEONARDO OLIVEIRA
Colunista de GZH e comentarista da Rádio Gaúcha
Não. O Gauchão voltará agora. Isso é fato consumado. Mas o debate que ainda segue dentro da validade é se, realmente, o campeonato está voltando em um momento adequado. O protocolo elaborado pela FGF e seguidos pelos clubes à risca é indiscutível e cria o máximo de segurança possível neste momento. Mas retomaremos o Gauchão justo em um momento crítico da pandemia aqui no Rio Grande do Sul. Que só não nos empurrou para colapso do sistema de saúde porque lá atrás, quando ainda fazia calor na ponta de baixo do hemisfério sul, nos preparamos e ampliamos nossa capacidade de atender à população. Mesmo assim vivemos um julho sob a sombra do coronavírus, com números de óbitos dobrando de uma semana para a outra, UTIs lotadas e uma sugestão de lockdown pela Sociedade Rio-Grandense de Infectologia. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta nos alertou nesta quinta-feira de que estamos no ápice da transmissão do vírus. Por tudo isso, acho que cria um constrangimento trazer o futebol à pauta neste momento. Mais do que isso, creio que cria uma sensação de normalidade quando atingimos o pico da falta, justamente, de uma normalidade.
Sim. O futebol deve voltar por que o protocolo oferece alto nível de segurança sanitária, com ampla testagem
DIOGO OLIVIER
Comentarista do Grupo RBS
Sim. O futebol deve voltar por que o protocolo oferece alto nível de segurança sanitária, com ampla testagem. Raros segmentos podem investir na luta global contra a pandemia como o futebol, identificando casos positivos e retirando-os do cenário de aceleração do vírus. Mesmo crescentes, os números do RS ainda são melhores do que estados onde o futebol até já voltou.
Passada a fase fundamental do isolamento, até a vacina chegar o foco tem de ser no caso a caso, sem ideologização. Onde for possível abrir com segurança forte (testes e mais testes), que se faça. Do contrário, não.
Não. Em todos os lugares em que houve flexibilização das normas de segurança são exigidas inúmeras restrições, como por exemplo, uso de máscara, distanciamento de dois metros entre pessoas, mesas distantes em restaurantes. No pico da pandemia e com bandeira vermelha, quase preta, sem esses cuidados, por impraticáveis, o futebol está voltando, mesmo com jogadores do Grêmio e do Inter contaminados. Não me parece o momento adequado.
Não. É realmente um assunto delicado, o qual eu mesmo estou sempre revendo a opinião. Por mais que eu entenda o lado dos clubes e da necessidade da volta — principalmente pelo aspecto financeiro —, não consigo me convencer por completo que estamos fazendo isso na hora certa. Mas, se todas as autoridades competentes estão avalizado esta retomada, vale o voto de confiança. Eu não faria isto, agora. Mas vou torcer para estar errado. De verdade.
Sim. O Gauchão deve voltar porque os clubes estão cumprindo protocolos sanitários rigorosos, com testes frequentes e todos os cuidados de prevenção. Além disso, os treinos coletivos estão liberados e a diferença entre um treino coletivo e um jogo sem torcida é quase zero. Se houver novos problemas de contaminação, a situação deve ser revista. Mas só se houver novos problemas.
Sim. O Gauchão está voltando na hora tão certa quanto possível. O ano fora da curva suprimiu do dicionário a palavra ideal. Então, os clubes e a FGF providenciaram uma situação de segurança sanitária boa o suficiente para retomada desta atividade geradora de emprego, renda e entretenimento. Se o restante da sociedade tivesse a mesma condição, estaríamos longe da bandeira vermelha. O setor futebol investiu para alcançar este patamar diferenciado. A volta do Gauchão não é privilégio e sim reconhecimento da competência de quem atuou na direção do protocolo que agora lhe garante o retorno.