A orientação da Brigada Militar de transferir os festejos de Saint Patrick's Day para o Parcão, a uma semana do evento, pegou de calça curta os comerciantes da Rua Padre Chagas.
Mais de 10 mil pessoas são aguardadas na via do Moinhos de Vento no próximo dia 17, data que homenageia o santo padroeiro da Irlanda – haverá outros eventos pela cidade, mas nada que se compare às multidões que entopem aquela rua ano após ano.
A prefeitura, até agora, não informou se vai aceitar a sugestão da Brigada. É uma hipótese improvável: como não é o poder público que promove a festa – e sim comerciantes da região –, restaria à prefeitura apenas vetar o evento. Neste caso, claro, não haveria tempo hábil para planejar toda uma nova estrutura no Parcão. E o resultado seria o pior possível.
As pessoas iriam para a Padre Chagas de qualquer forma, porque comemorar o Dia de São Patrício por lá virou uma tradição. Só que, com o evento cancelado, não haveria horário para acabar, nem segurança privada, nem banheiros químicos, nem limpeza após a festa, nem organização alguma.
Neste ano, para controlar as aglomerações, o bar Mulligan pretende repetir um esquema que funcionou no ano passado. Com o trânsito bloqueado entre a Fernando Gomes e a Hilário Ribeiro, a festa com bandas e DJ terá catracas para controlar a entrada e a saída de quem circula naquela quadra. Não haverá cobrança de ingressos, mas os frequentadores serão revistados por seguranças ao acessar a área.
– Não podemos garantir a ordem nas outras duas quadras da Padre Chagas, mas, nesta aqui, em 2019, não houve um único contratempo – afirma Rodrigo Maruf, sócio do Mulligan, preocupado em manter uma boa relação com os moradores.
Mas o tenente-coronel Luciano Moritz, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, diz que o problema começa quando o evento termina – o encerramento está marcado para as 22h. Segundo Moritz, os "bons boêmios" vão embora no horário combinado, mas logo entra em cena "uma marginalidade que a Cidade Baixa já conhece bem":
– Esse pessoal encontra nas multidões a atmosfera perfeita para praticar delitos como furto de celular e tráfico de drogas. Em 2019, inclusive efetuamos uma prisão na Padre Chagas – relembra Moritz.
Um ambiente aberto como o Parcão, em caso de tumultos, facilita o acesso dos policiais ao local da briga. Quando a rua é estreita como a Padre Chagas, a única forma de chegar ao ponto conflagrado, conforme o tenente-coronel, é "usando agentes químicos" como gás lacrimogêneo.
A preocupação da Brigada, portanto, é compreensível – só que assim, em cima do laço, não há muito o que fazer. O ideal seria a prefeitura, meses antes do evento, assumir uma postura proativa e debater com os comerciantes a melhor saída e o melhor fomato. Por parte dos bares, boa-vontade não falta.