Uma coisa que nunca entendi em Porto Alegre é por que os bares precisam fechar tão cedo. Nos dias de semana, o limite é meia-noite; nas sextas e sábados, duas da manhã.
– O IMBECIL QUER MAIS BADERNA NA CIDADE BAIXA!!!!!@!!11 – é o que dirão os elegantes.
Só que o pandemônio que assombra moradores do bairro, amplificado no Carnaval, não tem relação com o que ocorre nos botecos. Já mostramos várias vezes: são multidões de jovens que levam a própria bebida para consumir na rua sem qualquer intenção de entrar em algum lugar.
Aliás, o cenário na Lima e Silva, às três da manhã, é uma maluquice que só existe aqui – ruas entupidas de gente e bares sem ninguém lá dentro. Uma inversão cruel para todo mundo: são moradores punidos, comércio punido, turismo punido, economia punida. Porque, se os bares funcionassem até mais tarde, não há dúvida de que haveria mais emprego e renda. E haveria mais o que fazer na madrugada de Porto Alegre.
– No fim de semana, fecho as portas com 200 clientes aqui – diz Rodrigo Bressan, proprietário do Boteco Exportação, na Lima e Silva.
Jogue 200 pessoas na rua, às duas da manhã, sem opção de lazer. Não parece óbvio que algumas, ávidas por mais um copo, talvez estendam a convivência no espaço público? Não é isso o que deveria ser evitado?
Agora, se Rodrigo e o seu boteco têm espaço para acolher essa gente, com alvará em dia, com isolamento acústico, com todas as mesas do lado de dentro, por que impedi-lo de oferecer o serviço até cinco ou seis da manhã?
Sócio do Cavanhas, também na Lima e Silva, Eli Stürmer está entre as exceções da Cidade Baixa: como seu alvará é de restaurante, e não de bar, ele tem permissão para funcionar 24 horas. Trata-se de um avanço, sem dúvida, que o prefeito Marchezan promoveu em 2018, quando assinou um decreto com novas regras para a vida noturna na Cidade Baixa.
– Melhorou para nós, claro. O que piorou é esse pessoal bebendo na rua: nossa clientela diz que nem consegue chegar aqui de madrugada – conta Stürmer, lembrando que o movimento, nos últimos seis meses, caiu 20%.
Aliás, o decreto de 2018, ao proibir ambulantes e carros com música alta, se propunha a melhorar a situação da Cidade Baixa. Não adiantou muito, pelo contrário: as multidões foram se espalhando por vários pontos do bairro, e os bares seguiram limitados a um horário diminuto.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Cidade, concorda que os bares nunca foram um problema. Por outro lado, acredita que estender o funcionamento ajudaria muito pouco:
– É uma questão cultural, Porto Alegre nunca recebeu bem atividades econômicas que funcionavam 24 horas. Já tivemos um supermercado, por exemplo, que tentou isso e depois desistiu.
Com todo o respeito, o secretário está errado. Se tem algo que dá certo de madrugada é a boemia.