Ações da Brigada Militar (BM) para dispersar brigas na Cidade Baixa nos dois primeiros dias do Carnaval de rua em Porto Alegre reacenderam o debate sobre soluções para evitar tumultos entre frequentadores do bairro após o fim da festa. A prefeitura e a BM são unânimes quanto ao sucesso e à tranquilidade do evento dentro do horário oficial, que se encerra às 21h. Segundo os órgãos, as confusões são promovidas por parte das pessoas que ocupam as ruas do bairro depois do fim das comemorações. Esse entendimento foi reforçado pelo Executivo municipal por meio de nota:
“Os incidentes registrados ocorreram após o encerramento do Carnaval de rua em outros pontos da Cidade Baixa. Cabe ressaltar que os envolvidos não eram foliões e, sim, frequentadores de bares da região”.
Neste ano, o evento no bairro foi realizado na Praça Garibaldi como uma tentativa de afastar o movimento do núcleo do bairro. O secretário municipal da cultura, Luciano Alabarse, aponta o reforço no diálogo entre prefeitura, moradores e blocos como melhor caminho para tentar inibir os tumultos registrados após as festividades na região.
Sobre a transferência da festa para a orla do Guaíba, possibilidade frequentemente ventilada e apontada como solução no ano passado, o secretário reforça que isso depende de tratativas entre todos os envolvidos, destacando que a existência de “grupos que nasceram e têm raízes fortes na Cidade Baixa” tem de ser levado em conta.
— É uma construção que tem de ser feita com diálogo. Não é de baixo para cima com uma canetada que a gente resolve isso. É ouvindo as partes — pontua Alabarse.
O secretário reconhece que o evento é encerrado muito cedo, mas destaca que a prefeitura apenas segue determinação do Ministério Público (MP-RS). A reportagem tentou contato com a promotoria responsável pelo tema, que não quis se pronunciar sobre o caso.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o comandante do 9º Batalhão da Brigada Militar (BPM), tenente-coronel Luciano Moritz, afirmou que são dois públicos distintos:
— O que a gente tem visto após o Carnaval, após as 21h, não tem vinculação com o Carnaval. Costumo dizer que a pessoas que causam confusão não são foliões. São frequentadores da Cidade Baixa que escolhem aquele espaço para ingerir bebida alcoólica. E muitos acabam promovendo bastante balbúrdia e anarquia.
Um dos problemas registrados durante o Carnaval de rua na Capital no ano passado, a ausência de evento em algum dos dias de folia não ocorreu neste ano até o momento.
Evento na orla do Guaíba
O comandante do 9º BPM diz que é difícil criar manobras preventivas para evitar esse tipo de confusão, pois, muitas vezes, essas brigas ocorrem “do nada”. O comandante assegura que os agentes seguem mobilizados e vigilantes no local para coibir essas ações. O tenente-coronel destaca que o uso de força por parte da BM visa a evitar finais trágicos, como o triplo homicídio no bairro e a morte de um jovem ferido por garrafadas na orla do Guaíba, ambos registrados no ano passado.
No entendimento de Moritz, a realização do evento na orla do Guaíba facilitaria o trabalho dos órgãos de segurança.
— Essa formatação (na Praça Garibaldi) foi interessante, mas se conseguirmos levar pra orla do Gasômetro, que é mais afastada dos moradores, melhor. Nos moldes do que ocorre no Réveillon. Vejo com bons olhos levarmos todos os eventos pra lá. É um ambiente controlado. Local adequado e compatível para grandes eventos.
Antônio Verti, vice-presidente da Associação de Moradores Unidos da Cidade baixa (Amucb), afirma que restringir a festa à Praça Garibaldi não retira as pessoas das ruas. Ao defender o Carnaval na Orla, Verti cita que o local pode comportar os frequentadores pós-evento.
— O público insiste em ficar no bairro. Não temos nada contra o Carnaval, mas se termina às 21h, tá calor e noite agradável, tu acha que as pessoas vão embora? Elas vão para os bares, que oferecem a bebida. Na Orla, mesmo que acabe cedo, as pessoas podem seguir lá, bebendo e sem trazer bagunça pra nós, moradores.
Secretário municipal de Segurança, Rafão Oliveira segue a linha de que o público que aproveita a programação oficial do Carnaval de rua e o que segue nas ruas do bairro após o encerramento das atividades são diferentes:
— A pessoa que foi para esse evento organizado foi com uma intenção: se divertir, brincar, desopilar. Curtir uma festa cultural. Ela já sabe que se for para a Cidade Baixa vai se incomodar. Ele vai ser impedido de entrar em um bar, de transitar, porque tem um grupo de pessoas que obstruem as ruas, levam seus kits próprios para beber na rua.
Oliveira também avalia como positiva a eventual transferência do Carnaval de rua de Porto Alegre para a orla do Guaíba. De acordo com o secretário de Segurança, o fato de o local ser uma área descampada, revitalizada e de fácil controle por parte das equipes de segurança reforça essa avaliação.
— É uma área preparada para receber um grande evento, vide o Réveillon, onde nós tivemos ali de 80 mil a 100 mil pessoas e conseguimos ter um bom evento, com as pessoas dividindo o espaço público sem ter uma baderna, uma bagunça.
Nos dias 7 e 8 de março, a Orla receberá o Carnaval de rua, com encerramento das festividades estendido para a meia-noite. O evento é encarado pelas forças de segurança como um teste para a viabilidade da comemoração no local.
A reportagem de GaúchaZH tentou contato com a Opinião Produtora, promotora do evento na Capital, para questionar o entendimento da empresa sobre o tema, mas não obteve retorno até as 16h desta segunda-feira.