Enquanto algumas capitais tiveram dezenas de blocos na rua ao longo do feriadão do Carnaval, Porto Alegre foi manchete pelas confusões e cenas de baderna, sobretudo em dias sem programação.
Baseado nos erros e acertos do evento deste ano, GaúchaZH analisou experiências de São Paulo e Belo Horizonte, e ouviu Ministério Público e o secretário adjunto de Cultura para listar medidas que podem ajudar o Carnaval de Porto Alegre a ter mais alegria e menos confusão em 2020.
Abraçar o Carnaval de Porto Alegre
Embora moradores de diferentes bairros torçam o nariz para os blocos de rua, Porto Alegre demonstrou ter demanda para eles. Quanto menos eventos organizados existirem, mais haverá aglomerações por conta própria, como ocorreu no domingo (3) e na segunda-feira (4), na Cidade Baixa. Resolver o Carnaval de rua de Porto Alegre passa por admitir a sua existência e, dentro de um cenário de tolerância com os transtornos naturais de uma festa ao ar livre, organizá-lo da melhor forma possível.
Em Belo Horizonte, o sucesso recente dos bloquinhos fez com que a prefeitura visse uma oportunidade para fomentar a economia. Segundo a Empresa Municipal de Turismo (Belotur), somente nos quatro dias do feriadão de 2018 foram movimentados R$ 641 milhões na capital mineira.
Garantir ao menos um evento público por dia
Quando diferentes agentes do poder público se reuniram para acertar a programação do Carnaval de rua de Porto Alegre, de acordo com a promotora do Ministério Público Annelise Monteiro Steigleder houve a preocupação para que ocorresse ao menos um evento por dia na cidade. O MP se diz surpreendido pela transferência dos blocos que animariam a festa na Orla do Guaíba no domingo (4) para outras datas (a pedido dos próprios blocos), e deve cobrar explicações da prefeitura na próxima semana.
O secretário adjunto de Cultura, Leonardo Maricato, admitiu que essa garantia deve ficar explícita no edital do próximo ano. Se a programação de 2019 for obedecida, terão ocorrido eventos em nove datas: cinco a menos do que os 14 previstos no edital.
Licitar melhor e mais cedo
De acordo com a prefeitura, o compromisso dos blocos em se apresentar em datas pré-definidas não constou no edital do Carnaval de rua porque a licitação teve de ser feita de forma enxuta, rápida e sem maiores impeditivos, a fim de que não ficasse deserta. Pudera: edital foi lançado em 9 de janeiro, a menos de dois meses da festa, em boa medida por conta do desacordo entre MP, moradores e prefeitura.
Para 2020, se espera que a festa seja planejada mais cedo e com mais precisão. Outro problema apontado foi a ausência de remuneração para os músicos dos blocos, o que colaborou para que eles preferissem se apresentar em outros eventos no feriado.
Em Belo Horizonte, os eventos de 2019 e 2020 foram licitados em conjunto. As cifras também chamam a atenção: a Impacto Vento Norte venceu a licitação de Porto Alegre com investimento de R$ 50 mil. Em Belo Horizonte, a empresa Do Brasil Projetos e Eventos investiu R$ 10,5 milhões: R$ 4,5 milhões em 2019 e o restante para 2020. Em seguida, os mineiros captaram R$ 27,16 milhões em patrocínios.
Acertar a logística
Em São Paulo, a programação é de 570 blocos entre 23 de fevereiro e 10 de março. Em Belo Horizonte, somente na terça-feira (5), 52 blocos se apresentaram. Como as autoridades lidam com tamanha quantidade de problemas potenciais?
Mesmo aqui, prefeitura e Brigada Militar concordam que os blocos de rua têm uma logística que torna menos provável a ocorrência de baderna. Eles começam cedo e, assim que terminam, no mais tardar às 21h, entram em ação equipes de dispersão e limpeza, na tentativa de impedir que o local amanheça uma praça de guerra.
Durante o evento, o bloqueio de rua evita que carros particulares se abanquem com caixas de som, a fiscalização coíbe garrafas e os banheiros químicos aliviam as portarias e afins. Os eventos também contam com seguranças particulares, enquanto a Brigada se encarrega do entorno. Ou seja, a própria logística resguarda a região.
Evitar regiões conflagradas
Nem tudo são flores em outras cidades. Em São Paulo, os blocos que sairiam na região do Largo da Batata nesta terça-feira (5) foram transferidos com menos de 24 horas de antecedência para outro ponto, a seis quilômetros de distância. O motivo: em razão da proximidade da concentração do bloco com a estação de metrô da Faria Lima, o evento atraiu também milhares de jovens que organizavam eventos paralelos, com som e bebidas próprias, chamados pela imprensa local de "rolezeiros".
Nas duas noites anteriores, a Polícia Militar teve de dispersar a multidão. Em tudo o episódio lembra o ocorrido na Cidade Baixa, que ainda se ressente dos conflitos frequentes na Rua João Alfredo. Em São Paulo, a prefeitura optou por transferir o bloco tão logo detectou problemas incontornáveis na região.
Descentralizar a folia
De acordo com o secretário adjunto de Cultura, Leonardo Maricato, já passa pelas pretensões da prefeitura transferir os blocos de rua para a Orla do Guaíba em 2020. A ideia também é vista com simpatia pela Brigada Militar, sobretudo por resguardar bairros residenciais.
Todavia, baseado na experiência de Belo Horizonte, o mais sábio pode não ser manter toda a programação da cidade em um mesmo local. Segundo a Belotur, de Minas, a opção foi descentralizar a comemoração em pequenos blocos locais por dois motivos: manter os blocos frequentados majoritariamente por pessoas do próprio bairro, mais preocupadas com o bem estar dos vizinhos, e também evitar o deslocamento de multidões, o que é sempre uma dificuldade para autoridades de segurança.