Após mais uma madrugada de confronto entre Brigada Militar e grupos que permaneciam nas ruas e calçadas, a Cidade Baixa, em Porto Alegre, amanheceu novamente repleta de lixo nesta terça-feira (5). Os dejetos se concentraram nas duas quadras da Rua da República entre a Rua General Lima e Silva e a Avenida João Pessoa, onde um contêiner foi virado. Segundo a prefeitura, uma tonelada de lixo foi recolhida. Os moradores voltaram a reclamar da situação.
Descrente, o apicultor Helio Seibert, 64 anos, é direto ao afirmar que "ou acaba o Carnaval, ou acaba o bairro".
— Vivo há quase 50 anos aqui, adoro o bairro, mas não dá para aguentar essa gente que vem de longe para quebrar tudo.
Morador do bairro desde 1970, Moacir Reis, 66 anos, não conseguiu dormir devido ao pânico causado pelas explosões de bombas de efeito moral disparadas pela polícia, somado ao barulho de quem insistia em permanecer na rua. Ele reclama que os condôminos sequer terminaram de pagar a pintura da fachada e uma nova pichação já pode ser vista no local.
— Virou um inferno. Antes não tinha isso, sem contar a dificuldade de dormir, mesmo no meu apartamento, no sétimo andar — reforça o aposentado, que afirma não ser contrário ao Carnaval organizado pela prefeitura, programado para recomeçar às 15h desta terça-feira. — A música até as 21h, ou até um pouco mais, não incomoda. O problema é quando vai até as 2h, 3h.
Um Fiat Palio teve o para-brisa estilhaçado e os vidros das duas portas laterais destruídos. O proprietário havia colocado duas travas antifurto, segundo o porteiro do prédio ao lado do local em que o veículo estava estacionado.
— O dono está viajando e deixou o carro aí. Imagina o prejuízo, porque o carro não tem nem seguro — comenta Luís Fernando dos Santos, 53 anos.
No começo da manhã, três homens foram presos após serem flagrados pelas câmeras de segurança roubando a bateria do carro vandalizado. Os nomes deles não foram divulgados.
Já os veículos que circulavam pelas ruas de paralelepípedo do bairro foram vítimas constantes das garrafas quebradas espalhadas pelas vias. Quem não conseguia desviar, descia do carro para conferir se o pneu seguia intacto.
Levando a neta em um carrinho de bebê, Nelto Macedo, 63 anos, se considera refém na própria casa.
– Depois que começa a aglomeração eu não consigo sair portão afora. Fica todo mundo escorado na grade e ocupa toda a calçada – afirma.
Para a aposentada Nice da Silva, 58 anos, a caminhada matinal com o cachorro se tornou um desafio.
– Temos que desviar da sujeira e dos cacos de vidro. Sem falar das fezes e da urina, um horror.
Um telefone público foi destruído na Avenida João Pessoa, em frente ao Parque da Redenção. O largo Zumbi dos Palmares teve pouca concentração de público e, consequentemente, menos lixo, diferentemente do cenário encontrado no início da manhã de segunda-feira (4).
A prefeitura destacou 25 trabalhadores do DMLU, que iniciaram a limpeza logo após as 8h. Uma tonelada de lixo foi recolhida. Segundo o Executivo, uma pequena equipe seguirá nas ruas do bairro ao longo do dia.