Em primeiro lugar, aquele pandemônio de domingo (3) à noite, que terminou em depredações, sujeirada e confronto com a Brigada Militar, na Cidade Baixa, não era um evento. Não fazia parte do calendário de Carnaval, não tinha um organizador responsável, não foi autorizado pelo poder público. Eram multidões desordenadas que, a partir das 20h, foram se aglomerando espontaneamente na Rua da República.
Por que faço esse preâmbulo? Porque o tumulto só ocorreu por causa disso: durante o domingo inteiro, bem no meio do feriadão mais festivo do planeta, não havia nada para fazer em Porto Alegre. Ora, em uma metrópole com 1,5 milhão de habitantes, se não houver nada para fazer no Carnaval, as pessoas farão algo mesmo assim – desorganizado, mas farão.
Compare com o sábado (2): o primeiro dia de Carnaval foi um sucesso. Na mesma Rua da República, milhares de pessoas se reuniram à tarde em uma festa promovida pela prefeitura – o evento tinha hora para acabar e um planejamento acurado. Havia estrutura montada, seguranças particulares, presença constante da Brigada, EPTC controlando o trânsito, fiscalização de ambulantes, proibição de garrafas de vidro, 60 banheiros químicos, limpeza ao final do evento etc etc etc. Resultado: às 10 da noite o bairro estava em silêncio, com tudo limpo.
Já no domingo (3), um evento nos mesmos moldes estava previsto para a orla do Guaíba – o que certamente atenderia à demanda de um público ávido por seguir festejando. Mas foi cancelado. Segundo a produtora Impacto, vencedora da licitação para organizar o Carnaval de rua, os blocos que deveriam se apresentar pediram para desfilar em outra data.
Tinha que ter se dado um jeito. Embora o calendário de Carnaval, previsto no edital de licitação, se estenda até 24 de março, nos quatro dias do feriadão é imprescindível que haja festa. Ou, como já escrevi lá em cima, as pessoas farão festa de qualquer jeito – ainda que desorganizada. Nesta segunda-feira (4), novamente não há evento algum previsto para as ruas de Porto Alegre.