Após ser ameaçado de proibição, por decisão liminar da Justiça, em novembro, o Carnaval voltou neste sábado (2) ao bairro mais boêmio de Porto Alegre, a Cidade Baixa. A folia, no entanto, encara restrições neste ano. A festa não pôde se estender além das 21h, motivo pelo qual o carro de som não circulou pelo bairro, permanecendo fixo na Rua da República, entre as ruas José do Patrocínio e a João Alfredo.
— Imagina se há alguma demora em um contorno e não conseguimos encerrar no horário? Queremos realizar um evento exemplar, para que os vizinhos e a comunidade percebam a importância da integração com a festa — afirma Leonardo Maricato, secretário municipal adjunto da Cultura.
Mais uma restrição foi em relação às datas. Além do sábado, a festa só ocupará novamente o bairro na terça-feira (5). No ano anterior, foram oito dias de festividades na região, superando o "limite da suportabilidade", segundo o Ministério Público.
Os foliões aproveitaram o sábado quente, em um espaço preparado para receber até 20 mil pessoas. Uma das presenças mais animadas era Bárbara Proença, cadeirante de 24 anos que circulava no meio da multidão levada pela avó, Sônia Proença, de 65 anos. Elas vieram da região da Cavalhada, na zona sul da cidade, especialmente para a festa no bairro central.
— A gente vem há cerca de quatro ou cinco anos para esse Carnaval. Já temos amigos aqui, nossa turma — diz Sônia.
O público não era composto só por gente da Capital. De Canoas, a empresário Kalin Pascoaloto levou o filho Lucas, com apenas dois anos, para aproveitar a festa. Ela estava acompanhada da irmã, Rita, que mora em Viamão, e também levou os filhos João, 10 anos, e Maria Julia, 3.
— Gosto desse Carnaval porque é tranquilo e seguro. É uma festa bem organizada — diz Kalin.
O clima era mesmo propício para um passeio em família. É o que pôde comprovar o músico Renato Borghetti, que deixou a gaita de lado e foi agitar as melenas no asfalto da Rua da República acompanhado da mulher, Ingrid, e das filhas Nina e Dora.
— Está tudo lindo. Para melhorar, só falta valorizar mais a música ao vivo — opina Borghetti.
O gaiteiro foi um dos que estranharam os momentos de som mecânico da festa. Apenas dois blocos subiram ao caminhão de som para promover música ao vivo, em apresentações relativamente curtas. O primeiro deles foi a Banda DK, com um concerto que durou pouco mais de uma hora. A falta de cachê para os músicos foi o motivo do show breve.
— Quando participamos da seleção para participar deste Carnaval, sabíamos que não haveria cachê. No entanto, ao chegar aqui, a gente percebe que há muitas empresas ganhando dinheiro vendendo bebida e expondo suas marcas. Então os músicos, que são grandes promotores disso tudo, são os únicos que não são valorizados — argumenta Mestre Pernambuco, da Banda DK.
Leonardo Maricato assegura que, com o sucesso da iniciativa neste ano, o próximo edital deve prever um cachê para os músicos. Além disso, o secretário quer ampliar os dias de festa na Cidade Baixa, mas fora da temporada de Carnaval - a ideia é que alguns blocos tradicionais da região desfilem pelo bairro ao longo do ano.
— A Orla do Guaíba tem se revelado um espaço excelente para o Carnaval de blocos, tanto do ponto de vista da localização como de som. Então, se houver crescimento na temporada, deve ser para aquele lado — explica Maricato.