Quase três semanas depois do triplo homicídio que levou pânico à João Alfredo, o ambiente é outro na rua mais conturbada da Cidade Baixa. Na verdade, deixou de ser conturbada desde que a Brigada Militar adotou ali uma postura de tolerância zero.
– Eles inibem qualquer comportamento minimamente ilegal. Caminhar no leito da rua, por exemplo, que era um comportamento generalizado, não pode mais: tem que ser na calçada. Carro parado em fila dupla, é multa na hora. Os policiais fazem abordagens o tempo todo, e essa turma que ficava no meio da rua desapareceu. É outro mundo – diz Ricardo Petrus, sócio do restaurante Kamão.
Em resumo, as multidões que frequentavam a João Alfredo com o único intuito de fazer festa na rua – atazanando moradores, ouvindo música alta, urinando nas calçadas e consumindo drogas – enfim foram embora.
– Depois de tantos anos, a rua agora amanhece limpa. A gente não conseguia nem entrar e sair de casa, imagine dormir – relembra a moradora Lucena Aydos, 64 anos.
Não há dúvida de que a nova estratégia da Brigada – que botou mais policiais e ampliou o horário de atuação na João Alfredo – é absolutamente necessária: o atentado com três mortos foi só o desdobramento mais grave de um cenário que já se mostrava insustentável havia muito tempo.
Mas não dá para negar que intervenções extremas só se mostram necessárias quando situações degringolam. Para retomar o controle da via, depois de anos de conturbação, a única saída era essa.
– Queremos levar aos moradores e também aos frequentadores uma percepção direta de segurança – diz o tenente-coronel Luciano Moritz, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar.
Segundo ele, seu batalhão está aberto a receber informações e sugestões da comunidade. Alguns comerciantes, como o próprio Ricardo Petrus, do Kamão, queixam-se da brusca queda no movimento inclusive dentro dos bares.
Eis aí uma prioridade para um segundo momento: devolver à João Alfredo aquele convívio sadio entre frequentadores, comerciantes e moradores que um dia prevaleceu na rua.