Em primeiro lugar, não pode o primeiro bloquinho começar às 16h30min. Foi assim no domingo, quando a Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão que, horas depois do encerramento do evento, seguia flanando pela Cidade Baixa.
Tudo deveria ter terminado às 21h – esse era o acordo entre Ministério Público e prefeitura para poupar moradores do bairro. Só que, para o Carnaval acabar cedo, os blocos precisam começar cedo. E cedo é de manhã, como já virou tradição em cidades como São Paulo, Rio e Recife.
Aqui mesmo, em Porto Alegre, no fim do mês passado, o Bloco da Laje marcou seu desfile para as 9h. Depois de horas e horas de samba e cerveja, a multidão se desmobilizou bem antes das 21h. Uma beleza, deu certo. Mas apenas antecipar o horário dos blocos, claro, não resolve o problema.
Porque boa parte do público que avançou madrugada adentro na Cidade Baixa, não dá para esquecer, é o mesmo público que tradicionalmente já incomoda os moradores do bairro. É o mesmo público que, nos outros finais de semana, fora do Carnaval, costuma levar a própria bebida para consumir na rua – e atravessa as noites ali mesmo, sem qualquer interesse de entrar nos bares do bairro.
Ou seja: em grande medida, não se trata do mesmo grupo que curtiu o Carnaval durante o dia. Portanto, ainda que a programação termine cedo, essa turma deverá estender a farra. E estenderá onde? No local mais próximo que tiver concentração de pessoas. Hoje, esse local é o miolo da Cidade Baixa, bairro célebre pela intensa agitação noturna.
Mas e se o Carnaval de rua, como algumas autoridades sugerem, fosse transferido para a Orla? A programação oficial poderia terminar no horário que fosse – a concentração de pessoas, naturalmente, se manteria por lá. Foi o que houve no Réveillon deste ano, no Gasômetro, quando o público que bebe na rua desapareceu da Cidade Baixa.
Além de ficar longe das residências, a Orla hoje é o espaço mais bem-equipado da cidade para receber multidões: são dezenas de câmeras de vigilância, o escoamento do público é fácil, as arquibancadas comportam famílias inteiras, há um posto da Guarda ali mesmo.
Verdade que a Cidade Baixa guarda uma linda tradição com o Carnaval, mas é justo botar essa tradição à frente do bem-estar da cidade? Porto Alegre mudou, felizmente temos a Orla. Felizmente temos a solução.