Encarada com desconfiança por moradores, pelo Ministério Público e pela Brigada Militar, a festa de Saint Patrick's Day na Rua Padre Chagas foi um sucesso no fim de semana. A notícia é ótima: já passa da hora de a cidade rever sua conturbada relação com o santo padroeiro da Irlanda.
– Desta vez a festa nos surpreendeu positivamente, não há como negar. Se for mantida essa organização ordeira e civilizada, não temos por que ser contra – diz o advogado Raul Agostini, 85 anos, presidente do movimento de moradores Moinhos Vive, que se posicionou contrário aos eventos nos últimos anos.
Mesmo com toda a resistência, Porto Alegre já promove a segunda maior celebração de São Patrício do país – perde apenas para Belo Horizonte, segundo o Consulado-Geral da Irlanda em São Paulo. De fato, não é de hoje que a data se mostra promissora para: 1) movimentar a economia, 2) testar as melhores estratégias de ocupação do espaço público, 3) alimentar o convívio saudável com outras culturas, 4) quem sabe até atrair turistas.
Ou a cidade aprende a faturar com essa tradição recente, ou continua dando murro em ponta de faca – como se impedir comerciantes de organizarem eventos estruturados pudesse impedir as pessoas de se reunirem. No domingo passado, o Mulligan Irish Pub e a Combo Agência conseguiram promover um evento que, embora tenha enfrentado forte oposição, funcionou perfeitamente.
Entre 12h e 21h, com o trânsito da Padre Chagas bloqueado entre a Fernando Gomes e a Hilário Ribeiro, a festa teve catracas para controlar a entrada e a saída de quem circulava naquela quadra. Não houve cobrança de ingressos, mas os frequentadores eram revistados por seguranças ao acessar a área.
– Essa estrutura inibiu os tumultos. Havia ali uma sensação de controle da situação – avalia Pedro Santarem, sócio da Combo.
Em outros trechos da Padre Chagas e arredores, restaurantes como Ô Xiss, Urban Farmcy, Press Café e 20barra9 contrataram seguranças e instalaram banheiros químicos na via. No dia anterior, sábado, embora não houvesse qualquer evento de rua licenciado pela prefeitura, milhares de pessoas também se dirigiram à Padre Chagas – houve outras festas em vários pontos da cidade, mas a rua do Moinhos sem dúvida é o principal destino boêmio das celebrações de Saint Patrick's Day.
– Eram multidões se divertindo, com bastante ingestão de álcool, mas não houve maiores problemas – diz o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Luciano Moritz.
Não dá para negar que a chuva do fim de semana levou menos gente às ruas do que em 2018, quando 20 mil pessoas foram à Padre Chagas. Mas a falta de estrutura do ano passado – os bares desistiram de organizar eventos a céu aberto por pressão dos moradores – certamente facilitou os tumultos, a sujeirada e as depredações que chocaram o bairro.
Já no domingo passado, com cerca de 6 mil pessoas só entre a Fernando Gomes e a Hilário Ribeiro, antes da meia-noite a rua já estava limpa. Porque uma empresa foi contratada só para isso. Porque havia estrutura. Saint Patrick's Day, uma das festas que hoje mais mobilizam Porto Alegre, enfim foi um sucesso.