Ainda que transite no limite da autolouvação, gosto muito daquela campanha institucional da GloboNews que destaca seus profissionais – repórteres, apresentadores e comentaristas – por meio de histórias narradas por seus familiares. Ora aparece uma mãe grisalha contando que a filha era curiosa e perguntadeira desde que aprendeu a falar – e aos poucos a câmera vai abrindo e mostrando a jornalista reconhecida em que a criança se transformou. Ora entram também depoimentos de irmãos, filhos e amigos, lembrando passagens emblemáticas da infância dos personagens retratados: um brincava de filmar com caixa de papelão, outra fazia do cabo da vassoura um microfone e quase todos gostavam de ler ou se interessavam por assuntos que mais tarde viriam a explorar profissionalmente.
Nós, jornalistas, somos céticos por dever de ofício, mas acreditamos em vocação. Não naquela vocação inspirada por determinismo genético, pelo destino ou por alguma revelação divina. Longe disso. O jornalismo – sempre com ressalva para quem pensa diferente – é uma vocação adquirida. Pode ser na infância, como sugerem os anúncios da tevê, mas também na adolescência, na juventude, nos bancos da universidade ou mesmo depois de outras experimentações. O certo é que quem sente a palpitação sobrenatural da notícia, como bem descreveu o escritor colombiano García Márquez, fica contaminado pelo vírus do ofício para o resto da vida.
Claro que exagero em causa própria (às vezes temos, também, licença poética para alguns pequenos exageros). Qualquer profissão exercida com amor e idealismo dignifica o profissional. Além disso, jornalistas podem ser bons ou maus, podem desistir da carreira, podem mudar de ofício, como todas as pessoas. Mas os homens e as mulheres que abraçam a missão de procurar incessantemente a verdade por acreditar que ela torna as pessoas mais livres e mais iguais, ah, esses merecem reconhecimento. É o caso dos profissionais que receberão nesta quarta-feira o 61º Prêmio ARI de Jornalismo no auditório da Faculdade Senac Porto Alegre e de todos aqueles que, tendo ou não participado do concurso, produzem reportagens, crônicas, fotos, vídeos, charges e arte jornalística para contemplar, acima de tudo, o interesse do público.
Quem os conhece sabe que eles fazem por merecer o melhor dos prêmios, que é serem identificados como jornalistas desde criancinhas – ou desde que assumiram o compromisso de informar com precisão, ética e responsabilidade para contribuir na construção de um mundo melhor.