Dia desses fui fazer um exame de rotina e, logo no primeiro contato, o atendente da clínica médica me pediu para estender o braço. Achei que ele ia aferir a minha pressão arterial, mas o rapaz simplesmente colocou em torno do meu pulso uma espécie de fita adesiva de cor amarela, com a inscrição:
– Risco de queda!
Li aquilo e imediatamente olhei ao redor, imaginando que estivéssemos próximos de uma janela ou sacada. Mas não: estávamos no meio de um salão térreo, ambos sentados em confortáveis cadeiras, que sequer eram giratórias. Questionei o jovem com o olhar e ele, gentilmente, explicou:
– Faz parte do protocolo de atendimento, por causa da sua idade.
Ops! Senti um certo preconceito aí. No mínimo, etarismo. Na última vez em que caí um tombo, pelo que me lembro, estava disputando uma jogada no futebol. E nem faz tanto tempo assim. Mas aceitei o rótulo, até mesmo porque o rapaz estava cumprindo orientações de superiores. Orientações fundamentadas, reconheça-se: o último Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros revelou que um em cada quatro habitantes deste negligenciado país da terceira idade sofre quedas anualmente. Mais: diz o relatório que essas quedas podem ser a terceira causa de morte entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil.
Vade Retro! Depois dessa pesquisa, acho que vou começar a usar a pulseirinha o tempo todo. Veja-se o que ocorreu recentemente com o inquilino número 1 do Palácio do Planalto. O homem foi cortar as unhas no banheiro presidencial e desabou do seu assento. Pelo jeito, é mais fácil contrariar as leis do mercado do que desafiar lei da gravidade.
Mas tem um lado sério nessas histórias pitorescas: a incidência de desequilíbrios na turma dos chamados Sessentamais. De acordo com a ciência médica, as principais causas são perda de massa muscular, alterações vestibulares, redução da capacidade visual e auditiva, alterações na marcha de postura, doenças crônicas e uso de determinados medicamentos. Esses achaques da idade, que podem ser prevenidos e tratados, costumam ser potencializados por descuidos cotidianos, como aquele tapetinho dobrado no corredor da casa ou o famigerado banquinho para trocar lâmpadas e pendurar quadros.
E agora aprendemos outra lição: para cortar as unhas dos pés, é mais seguro sentar-se no chão.