
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista exclusiva ao Fantástico, da TV Globo, que será veiculada na noite deste domingo (15). Ele comentou sobre a condição clínica que o fez ser submetido a duas cirurgias na cabeça. Segundo ele, o resultado de uma tomografia apavorou a equipe médica que o tratava.
— Fiz uma outra ressonância magnética. Quando eu saí, os médicos estavam assustados. Aí me ligaram de São Paulo, ó, tem que vir urgente — declarou.
— Foi uma situação grave. Nem abriu a porto do avião e me joguei para dentro, mas ele me recebeu em pé, bem — disse o médico Roberto Kalil, que o atendeu. Ele também afirmou que havia risco iminente de morte.
Lula deixou às 12h22 deste domingo (15) o Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, onde estava internado desde a última terça-feira (10). Do hospital, o presidente seguiu para a sua residência localizada no Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde deverá permanecer até pelo menos a próxima quinta-feira (19) para recuperação.
Pouco antes de deixar o hospital, Lula apareceu de surpresa, acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, na entrevista coletiva em que os médicos informavam sobre a alta hospitalar. Ele abraçou os profissionais, posou para fotos e agradeceu a Deus e a toda a equipe médica que o acompanhou no hospital.
— Isso é apenas uma sessão de agradecimento — disse Lula ao iniciar sua fala, que durou cerca de 15 minutos. — Deus foi muito generoso ao cuidar de mim quando eu caí no tombo no banheiro — declarou.
Detalhes da queda
Durante a entrevista, Lula detalhou o momento do acidente que sofreu no banheiro do Palácio do Planalto e os momentos que antecederam a chegada ao hospital. O presidente revelou que havia terminado de cortar e lixar a unha das mãos, quando tentou afastar o banco em que estava sentado e caiu para trás, batendo a cabeça na hidromassagem.
— Eu estava sozinho. Durante alguns segundos tive problema de mexer com as mãos e com as pernas, aí consegui virar. Fui até a porta, peguei no trinque e consegui mexer com as pernas e levantar, sangrando muito.
Lula ainda contou que sua última memória antes da cirurgia é do momento em que entrou na ambulância, a qual reclamou ser "muito barulhenta".
— A última voz que eu ouvi foi quando cheguei no Sírio Libanês, que gritaram 'chegamos!' Estava todo mundo meio nervoso, me levaram para a sala de cirurgia e já fui operado, mas eu vi mais nada, tomei sedativo. Só fui acordar no dia seguinte, com a cabeça já embrulhada, empacotado — relembra.
Apesar do procedimento ter sido bem sucedido, o presidente descumpriu algumas orientações médicas para evitar exercícios físicos. Lula contou que voltou a fazer esteira e musculação por teimosia e considerar que não havia mais perigo, devido ao tempo que passou e pelo bom resultado da última tomografia realizada.
— Eu posso passear, sabe? Um passeio no shopping. Eu não posso fazer esteira a 6 km/h, como eu corria, dava um trotezinho durante 10 minutos seguidos. Eu ando em uma velocidade rápida, mas é por hábito mesmo. Eles falaram que isso não pode, tem que esperar cicatrizar — contou.
Nova internação
No domingo (8), Lula queixou-se de dor de cabeça, mas rechaçou estar relacionado à cirurgia e acreditou ser resultado da exposição ao sol durante o dia. Na segunda-feira (9), o presidente foi conduzido às pressas ao Sírio Libanês e passou por nova intervenção cirúrgica no dia seguinte.
— Eu comecei a sentir alguns movimentos esquisitos na perna, uma certa lentidão. Estava reunido com o Pacheco, com o Lira e vários ministros, discutindo o acordo feito na Suprema Corte sobre as emendas parlamentares, quando falei a doutora Ana que não estava bem.
Lula revelou que ficou preocupado com a reação dos médicos, que solicitaram que ele fosse com urgência para São Paulo. Durante a viagem, Janja certificou-se de manter o presidente acordado.
— Na segunda-feira eu olhei que eles não estava muito bem, reclamando de dores nas costas, a perna puxando. Ele começou a decair à noite. Eu posso te dizer que aquela noite, depois que a minha mãe faleceu, foi a pior para mim, porque eu não sabia como que ia amanhecer o dia de terça-feira — contou Janja sobre o período entre a viagem de Brasília a São Paulo e a nova cirurgia.
Lula revelou que atualmente se sente bem e vai seguir as recomendações médicas para evitar novas complicações. O presidente planeja voltar às suas atividades em Brasília após quinta-feira, dia em que passa por nova tomografia no Sírio Libanês.
O presidente ainda destacou que vai poder realizar sua próxima viagem internacional, em 27 de março para o Japão, com "tranquilidade".
— O que eles (médicos) têm preocupação é nos próximos 45 a 60 dias, até fechar o furo que eles fizeram.
Lula pretende voltar aos compromissos em Brasília após uma tomografia confirmar sua recuperação na quinta-feira, 19 de dezembro.
— Vou para Brasília para trabalhar normalmente — afirmou.
Ele destacou a importância de sua presença na capital para tratar da agenda econômica, criticou a alta taxa de juros e disse ter compromisso com a estabilidade econômica.
- Ninguém nesse país do mercado tem mais responsabilidade fiscal do que eu. Não é a primeira vez que eu sou presidente da República. Eu já governei esse país e entreguei esse país crescendo 7,5%. Entreguei esse país com a massa salarial mais alta desse país. Entreguei esse país numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem que ir preocupado com os gastos do governo, é o governo. Porque se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, sabe quem vai pagar? O povo pobre - afirmou Lula.