Gabriel García Márquez não faria melhor. Na pequena cidade de Serranópolis, no interior de Goiás, tem uma família numerosa que registra todos os filhos primogênitos com o nome de Lázaro ou Lázara, há pelo menos cinco gerações. Já são mais de 240 Lázaros num município de menos de 8 mil habitantes.
Parece ficção, mas as cédulas de identidade publicadas por uma integrante da família na sua rede social não deixam dúvidas sobre a existência dos xarás do célebre personagem bíblico. Aliás, a Bíblia destaca dois tocaios: o Lázaro que tinha hanseníase (a antiga lepra) e que morreu na porta do homem rico (Lucas 16:19 – 31); e o Lázaro ressuscitado por Jesus (João 11:1 – 46), morto pela primeira vez em decorrência de doença não especificada no livro sagrado – ainda que, segundo a narrativa, tenha saído do túmulo envolvido em panos. Na segunda vez, conta-se, morreu de velhice.
Pois os Lázaros goianos derivam de uma história que mistura os dois episódios, envolvendo também medo e superstição. Um tetravô da atual geração, que se chamava José Alves de Oliveira mas tinha um filho Lázaro em homenagem ao santo, teria contraído lepra na época em que era doença incurável. Religioso, fez a fatídica promessa: caso se curasse, todos os primogênitos de sua descendência seriam batizados com o nome do ressuscitado. Deu no que deu: o homem ficou bom e seus filhos, netos e bisnetos jamais tiveram coragem de interromper a corrente de fé.
Cresceram e multiplicaram-se. Para diferenciar um pouco e não dar confusão na hora da chamada — a escola local chegou a ter uma dezena de Lázaros e Lázaras na mesma aula —, os pais começaram a colocar um segundo nome nos primogênitos. Tem até uma Lázara Ágda, mas a promessa continua sendo rigorosamente cumprida. E tudo indica que a tradição será mantida: Anna Karla, a menina que postou o vídeo com a história da família e que se chama assim por não ser primogênita, legendou: “Eu só tenho duas certezas na vida: a de que um dia vou morrer e a de que meu primeiro filho se chamará Lázaro ou Lázara”. Assim os Lázaros vêm ressuscitando por sucessivas gerações no interior de Goiás.